UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA FLORESTAL
CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL
NATÁLIA DIAS GUERRA NOGUEIRA
INFLUÊNCIA DO MONOCULTIVO DE PAU-BRASIL (Paubrasilia echinata Lam E.
Gagnon, H. C. Lima & G. P. Lewis, FABACEAE) NA REGENERAÇÃO E FAUNA
EDÁFICA EM ÁREA DE MATA ATLÂNTICA DE PERNAMBUCO
RECIFE – PE
2023
NATÁLIA DIAS GUERRA NOGUEIRA
INFLUÊNCIA DO MONOCULTIVO DE PAU-BRASIL (Paubrasilia echinata Lam E.
Gagnon, H. C. Lima & G. P. Lewis, FABACEAE) NA REGENERAÇÃO E FAUNA
EDÁFICA EM ÁREA DE MATA ATLÂNTICA DE PERNAMBUCO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Coordenação do Curso de Engenharia Florestal da
Universidade Federal Rural de Pernambuco, como
como parte das exigências para obtenção do título de
Bacharel em Engenharia Florestal.
Orientadora: Profª. Drª. Maria da Penha Moreira
Gonçalves
Coorientador: Prof. Dr. Tarcísio Viana de Lima
RECIFE – PE
2023
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Sistema Integrado de Bibliotecas
Gerada automaticamente, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
N778i Nogueira, Natália Dias Guerra
INFLUÊNCIA DO MONOCULTIVO DE PAU-BRASIL (Paubrasilia echinata Lam E. Gagnon, H. C. Lima & G. P.
Lewis, FABACEAE) NA REGENERAÇÃO E FAUNA EDÁFICA EM ÁREA DE MATA ATLÂNTICA DE
PERNAMBUCO / Natália Dias Guerra Nogueira. - 2023.
66 f. : il.
Orientadora: Maria da Penha Moreira Goncalves.
Coorientador: Tarcisio Viana de Lima.
Inclui referências.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Bacharelado em
Engenharia Florestal, Recife, 2023.
1. Restauração. 2. Espécie Nativa. 3. Indicadores ecológicos. I. Goncalves, Maria da Penha Moreira, orient. II. Lima,
Tarcisio Viana de, coorient. III. Título
CDD 634.9
NATÁLIA DIAS GUERRA NOGUEIRA
INFLUÊNCIA DO MONOCULTIVO DE PAU-BRASIL (Paubrasilia echinata Lam E.
Gagnon, H. C. Lima & G. P. Lewis, FABACEAE) NA REGENERAÇÃO E FAUNA
EDÁFICA EM ÁREA DE MATA ATLÂNTICA DE PERNAMBUCO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Coordenação do Curso de Engenharia Florestal da
Universidade Federal Rural de Pernambuco, como
como parte das exigências para obtenção do título de
Bacharel em Engenharia Florestal.
Aprovado em: 21 de Setembro de 2023
Orientadora:
____________________________________________________
Profª Drª Maria da Penha Moreira Gonçalves
(Departamento de Ciência Florestal – UFRPE)
Banca Examinadora:
____________________________________________________
Prof. Dr. Everaldo Marques de Lima Neto
(Departamento de Ciência Florestal – UFRPE)
____________________________________________________
Me. Denisvaldo Artur de Meireles
(Departamento de Ciência Florestal – UFRPE)
RECIFE – PE
2023
RESUMO
Processos de restauração de florestas tropicais podem ser conduzidos por plantio de espécies
nativas em área degradada pela ação humana, visando a reconstrução gradual de um
ecossistema dinâmico e biodiverso, porém pouco se sabe sobre a atuação de uma espécie nativa
implantada em modelo monocultural com fins restauratórios. Partindo desse princípio, o
objetivo desta pesquisa foi avaliar a influência do sistema monocultural com Paubrasilia
echinata sobre a flora da regeneração e fauna edáfica do sub-bosque em ambiente de Floresta
Estacional Semidecidual em Pernambuco. Para isso foram selecionadas duas áreas, uma em
restauração passiva com Bosque da espécie Pau-Brasil com mais de 50 anos (BPB) e uma área
de Mata Nativa (MN) adjacente utilizada como área controle, ambas em área protegida da
Estação Ecológica do Tapacurá, campus avançado da UFRPE. Realizou-se levantamento de
regeneração natural e fauna edáfica como indicadores ecológicos, nas duas áreas com total 6
parcelas medindo 600m² cada. Para a regeneração foram mensurados indivíduos arbóreos com
Circunferência a Altura do Peito (CAP1,30m) de até 15cm e altura mínima de 1m que foram
identificados a nível de espécie e classificadas quanto a origem, síndrome de dispersão e grupos
ecológicos. A riqueza foi feita pela lista de espécies e a diversidade pelos Índices de Diversidade
de Shannon-Weaver, Dominância de Simpson e Equabilidade de Pielou. As espécies foram
analisadas em parâmetros horizontais e em 3 classes de altura. Para avaliação da fauna do solo,
foram utilizadas armadilhas do tipo pitfall, 9 em cada área, os organismos coletados foram
triados e identificados, quando possível, a nível de ordem. A análise da fauna edáfica foi feita
através do programa ANAFAU, que fornece índices ecológicos e informações da estrutura da
comunidade. Os resultados dos índices ecológicos dos dois indicadores foram comparados pelo
Teste t de Hutcheson no programa PAST. Como resultado, na regeneração natural a área de
MN apresentou maior riqueza e maiores valores de diversidade e equabilidade, já a área de BPB
apresentou maior valor de dominância devido a superior e expressiva presença de indivíduos
em regeneração da espécie. Verificou-se diferença estatística significativa para a diversidade e
dominância da regeneração natural entre as áreas estudadas. Em ambas as áreas foi constatado
maior número de espécies zoocóricas e destaque para o grupo ecológico de secundárias inicias.
Apenas na área de MN houve registro de espécies exóticas. Foram observados indivíduos nas
três classes de altura nas duas áreas, sendo a da MN com maior número de espécies com esta
representação. Em relação a fauna edáfica, foram verificados maiores valores de abundância na
área do BPB e maior riqueza na área da MN, sendo a diversidade da fauna do solo semelhante
entre as áreas. As ordens Collembola, Hymenoptera e Diptera foram destaque para as duas
áreas. A ordem Orthoptera foi encontrada em maiores abundância e frequência na área do BPB.
Portanto, o monocultivo de Pau-Brasil vem influenciando negativamente o estrato da
regeneração natural em quesitos de diversidade vegetal e vem afetando a proporção de alguns
grupos da fauna do solo.
Palavras-chave: Restauração, Espécie Nativa, Indicadores ecológicos.
ABSTRACT
Restoration processes of tropical forests can be conducted through the planting of native species
in degraded areas caused by human activities, aiming for the gradual reconstruction of a
dynamic and biodiverse ecosystem. However, little is known about the performance of a native
species planted in a monocultural model for restoration purposes. Based on this principle, the
objective of this research was to assess the influence of the monocultural system with
Paubrasilia echinata on the regeneration flora and soil fauna in the understory of a
Semideciduous Seasonal Forest environment in Pernambuco. For this purpose, two areas were
selected: one in passive restoration with a plantation of Pau-Brasil aged over 50 years (BPB),
and an adjacent Native Forest (MN) area used as a control area, both within a protected area of
the Tapacurá Ecological Station, an advanced campus of UFRPE. A survey of natural
regeneration and soil fauna was conducted as ecological indicators in both areas, with a total of
6 plots measuring 600m² each. For regeneration, tree individuals with a Circumference at Breast
Height (CBH) of up to 15cm and a minimum height of 1m were measured, identified to the
species level, and classified by origin, dispersal syndrome, and ecological groups. Richness was
determined by the species list, and diversity was assessed using Shannon-Weaver Diversity
Indices, Simpson's Dominance, and Pielou's Evenness. The species were analyzed both
horizontally and in 3 height classes. To evaluate the soil fauna, pitfall traps were used, 9 in each
area, the collected organisms were screened and identified, when possible, at order level. The
analysis of the edaphic fauna was made through the ANAFAU program, which provides
ecological indexes and information on the structure of the community. The results of the
ecological indexes of the two indicators were compared by the Hutcheson t test in the PAST
program. As a result, in natural regeneration the area of MN presented greater richness and
higher values of diversity and equability, while the area of BPB presented higher dominance
due to the superior and expressive presence of individuals in regeneration of the species. There
was a significant statistical difference for the diversity and dominance of natural regeneration
among the studied areas. In both areas it was observed a greater number of zoochoric species
and highlight to the ecological group of early secondary. Only in the area of MN there were
records of exotic species. Individuals were observed in the three height classes in both areas,
being the MN with the highest number of species with this representation. Regarding the
edaphic fauna, higher values of abundance in the BPB area and greater richness in the MN area
were verified, and the soil fauna diversity was similar between the areas. The orders
Collembola, Hymenoptera and Diptera were highlighted for the two areas. The order Orthoptera
was found in greater abundance and frequency in the BPB area. Therefore, the monoculture of
Brazilwood has been negatively influencing the stratum of natural regeneration in questions of
plant diversity and has been affecting the proportion of some groups of soil fauna.
Keywords: Restoration, Native Species, Ecological Indicators.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 7
2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 10
3 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................. 11
3.1 Mata Atlântica ................................................................................................................. 11
3.2 Floresta Estacional Semidecidual ................................................................................... 12
3.3 Fragmentação, Monocultura e Restauração Florestal ..................................................... 13
3.4 Regeneração Natural ....................................................................................................... 14
3.5 Fauna Edáfica ................................................................................................................. 15
4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................... 17
4.1 Caracterização da área de estudo .................................................................................... 17
4.2 Local de Amostragem e Coleta de dados ........................................................................ 20
4.3 Indicadores Ecológicos ................................................................................................... 21
4.4 Análise de dados ............................................................................................................. 26
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................... 31
5.1 Levantamento da Regeneração Natural .......................................................................... 31
5.2 Fauna Edáfica ................................................................................................................. 46
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 54
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 55
7
1 INTRODUÇÃO
Originalmente com cobertura de cerca de 1,3 milhões de km², a Mata Atlântica já esteve
no pódio do ranking das maiores florestas tropicais do mundo. Altamente diversa em espécies
vegetais e animais, com destaque para seu alto índice de endemismo, é o terceiro maior bioma
do Brasil, a se estende do litoral nordestino ao sul do país (Cardoso, 2016).
Em Pernambuco, a zona natural de distribuição restringe-se à chamada “Zona da Mata”,
uma estreita área de planície costeira, com cerca de 12.000 km² de extensão, estando
completamente fragmentada por ações de exploração e destruição da floresta pelo homem
(Franke, 2005).
A espécie Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H.C.Lima & G.P.Lewis, (Pau-Brasil)
de indiscutível valor histórico, foi alvo principal da exploração no processo de colonização
(Cardoso, 2016). A espécie é nativa e endêmica brasileira, encontrada particularmente em uma
das fitofisionomias da Mata Atlântica, a Floresta Estacional Semidecidual das Terras Baixas,
característica da borda litorânea oriental do Brasil (IBGE, 2012).
As áreas de florestas estacionais semideciduais que são encontradas no nordeste
brasileiro e ocorrem em solos férteis com baixos níveis de alumínio, convenientes à agricultura
de modelo monocultural, o que resultou na enorme destruição destas florestas em muitas áreas
(Pennington et al., 2000). O processo de fragmentação florestal compromete a riqueza
ambiental das áreas naturais, sendo a expansão de fronteiras agrícolas uma das principais causas
(Holanda et al., 2010).
O patrimônio da formação florestal da Mata Atlântica, vai além de sua biodiversidade e
beleza se estendendo ao processo de proteção dos solos e de mananciais de água potável (Lino;
Dias, 2005). É urgente a necessidade de ações com o objetivo conservacionista, o futuro da
Mata Atlântica certamente dependerá do manejo de espécies e ecossistemas se quisermos
garantir a proteção da sua biodiversidade em longo prazo (Pinto et al., 2006).
Como ferramenta para obter recuperação de ecossistemas fragmentados, degradados ou
perturbados, emprega-se o processo de restauração ecológica. Profissionais da restauração
criam condições que podem ser simples ou complexas, desde que favoreçam e acelerem a
recuperação para que as comunidades dinâmicas de animais, plantas e microrganismos realizem
o trabalho (SER, 2023).
8
Atributos sujeitos a mensuração, os indicadores ambientais, devem ser considerados
como importantes meios de avaliação de componentes dos ecossistemas, eles podem indicar
alterações ocorridas no ambiente em questão (Baretta et al., 2011). O desempenho de um
ecossistema está baseado na circulação dos elementos que o compõe, pelos diversos
compartimentos, sendo considerado sustentável enquanto não necessitar de reposição externa e
a avaliação de seu equilíbrio ambiental pode ser feita através da observação das características
desse ambiente e de sua população por meio de indivíduos bioindicadores (Castro; Melo;
Garlet, 2022).
Um importante elemento de avaliação do processo de recuperação florestal é o estrato
regenerante. A regeneração natural por ser um processo dinâmico, disponibiliza informações
da manutenção, comportamento e até mesmo de que maneira ocorreu a chegada de espécies
presentes na área (Almeida et al., 2020).
Oliveira (2011), em sua pesquisa sobre trabalhos publicados com o tema monitoramento
da restauração em área de Mata Atlântica, apresentou que o enfoque dos artigos de 1995 a 2008
referiram-se majoritariamente a regeneração natural, sendo apresentado como um forte
indicador de processos ecológicos, que informam aspectos estruturais e funcionais considerados
importantes na recuperação de atributos ecológicos prejudicados pelos processos de
degradação.
Sobre a manutenção de características estruturais e de fertilidade dos solos tropicais,
esta tem sido atrelada a diversidade da fauna existente no componente edáfico, devido sua
riqueza e magnitude, se torna uma das vias de visualização do estado de funcionamento dos
ecossistemas. A fauna edáfica, ocupando diversos níveis tróficos da cadeia alimentar, atua em
papel chave com rápida resposta à alterações sofridas pelo ecossistema, servindo portanto como
sensível indicador biológico (Baretta et al., 2003; Silva et al., 2006; Machado et al., 2015).
Devido a sua complexidade, a fauna edáfica pode se apresentar de maneira funcional e
taxonômica direta para cada tipo de ambiente (Fernandes et al., 2015), composta por animais
invertebrados, é responsável por transformações físicas e químicas de resíduos depositados no
solo, sendo de grande importância em atividades que favorecem a estruturação do ambiente
terrestre, atuando na decomposição de material vegetal, ciclagem de nutrientes e na regulação
de processos biológicos do solo (Rossi, 2009; Berude et al., 2015).
9
O município de São Lourenço da Mata em Pernambuco, já vivenciou como principal
atividade econômica a exploração do Pau-Brasil, realizada nos tempos de colonização, hoje
apresenta uma das regiões mais ameaçadas da Floresta Atlântica Brasileira (CPRH, 2017).
Tal processo quase levou à extinção da espécie símbolo do país e naturalmente ocorrente
na região, diante disso foi realizado um grande plantio em área atualmente protegida do
município, com intuito conservacionista e de recuperação de ecossistema degradado. Após
plantio não há histórico de intervenções no manejo de cunho restaurativo, ou seja, segue-se o
modelo de restauração passiva que é definida como o retorno espontâneo de um ecossistema
perturbado a um estado preexistente (Coutinho et al., 2019).
Apesar da importância do cultivo da espécie Paubrasilia echinata para fins econômicos
e de conservação, ainda não se tem informações norteadoras em relação ao cultivo desta em
sistema monocultural e as modificações que isto possa trazer ao ambiente. A hipótese deste
estudo estabelece que o plantio em modelo monocultural de Pau-Brasil, mesmo na sua
fitofisionomia de origem, afeta negativamente a estrutura e diversidade da regeneração natural
local, assim como a fauna edáfica, quando comparado com área de mata conservada.
10
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Verificar a influência do sistema monocultural com Pau-brasil sobre a flora da regeneração e
fauna edáfica do sub-bosque em ambiente de Floresta Estacional Semidecidual em
Pernambuco.
2.2 Específicos
- Avaliar a composição florística da regeneração natural em sub-bosque de monocultivo de Pau-
Brasil com mais de 50 anos de idade em ambiente de floresta estacional semidecidual da mata
atlântica pernambucana.
- Identificar ordens de fauna edáfica indicadora da qualidade ambiental em sub-bosque de
monocultivo de Pau-brasil e em áreas de mata nativa conservada em ambiente de floresta
estacional semidecidual em Pernambuco;
- Conhecer o nível de equilíbrio ambiental adquirido em área de monocultivo de Pau-brasil com
mais de 50 anos de idade com base no comparativo da regeneração natural e fauna edáfica
presente em área de floresta natural conservada adjacente;
11
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Mata Atlântica
Por possuir uma série única de ecossistemas de florestas tropicais da América do Sul
com altos índices de biodiversidade (cerca de 300-500 espécies vegetais/ha em florestas
primárias) e alta taxa de endemismo (50 % das espécies vegetais), somados ao grau de ameaça
que vem sofrendo, a Mata Atlântica é considerada uma formação de grande importância,
figurando entre os cinco primeiros biomas no ranking dos Hotspots mundiais (Mittermeier et
al, 2005; Oliveira et al., 2011; Almeida, 2016).
A Mata Atlântica brasileira tem sido desmatada e fragmentada através da ação antrópica,
desde o início do processo de colonização portuguesa e da expansão urbana atrelados aos ciclos
econômicos do pau-brasil, cana-de-açúcar, mineração, café e pecuária causando drástica
redução da diversidade biológica, interferindo em relações ecológicas e habitats, acarretando
em extinções de espécies da fauna e flora (Almeida, 2016).
Da cobertura florestal original do bioma restam apenas 12,4%, composta por fragmentos
de área acima de três hectares considerados maduros, com dossel fechado ou com degradação
que não pode ser detectada por imagens de satélite. O percentual diminui no registro dos
chamados Maciços Florestais do bioma, fragmentos superiores a 100 hectares, principal habitat
para espécies raras e com maior estoque de carbono, representam apenas 8,5 % da floresta
original (SOS Mata Atlântica, 2023a). Por tal realidade, a Mata Atlântica vem sendo
considerada uma das florestas tropicais com maior risco de extinção no planeta (Almeida,
2016).
A variação de altitude neste bioma influencia um padrão de alta riqueza de espécies e a
presença de diversas tipologias vegetacionais, desde matas de planície costeira, de encostas, de
grandes altitudes, além das florestas úmidas, secas, mistas e semi-decíduas. A Mata Atlântica é
pode se apresentar em: Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta
Estacional Semidecidual, Floresta Estacional Decidual, Floresta Ombrófila Aberta, restingas,
manguezais, e Campos de Altitude. Sendo um bioma formado por ecossistemas florestais e não-
florestais a depender de sua fitofisionomia, critérios botânicos, geográficos e geológicos.
(Mittermeier et al., 2005; Cardoso, 2016).
Marangon et al. (2008) afirma que geralmente os remanescentes de Mata Atlântica se
apresentam em estágio de sucessão natural secundária, estando empobrecidos, alterados e
12
fragmentados em relação a sua composição florística original e que mesmo assim, são recursos
de grande valor, para geração atual e futura. Estes recursos naturais de origem da floresta
atlântica, que sustentaram a economia nacional desde a colonização até dias atuais, não recebem
os cuidados em prol de sua conversação condizente com sua importância (Almeida, 2016).
3.2 Floresta Estacional Semidecidual
Dentre as formações florestais do Bioma Mata Atlântica, predomina em extensão a
Floresta Estacional Semidecidual, chamada de Mata de Interior, a qual cobre 486 mil Km² do
território brasileiro (Santos, 2010). Essa formação se caracteriza por dupla estacionalidade
climática, apresentando um conjunto vegetativo muito diversificado e divide-se em: Floresta
Estacional Semidecidual das Terras Baixas, Floresta Estacional Semidecidual Submontana e
Floresta Estacional Semidecidual Montana (Campanili; Schäffer, 2010).
Pennington et al. (2000) alerta sobre a pouca atenção dada por conservacionistas e
ecologistas a essa vegetação conhecida de áreas sazonalmente secas e ressalta a necessidade de
informações sobre esse tipo de floresta que devem ser consideradas e analisadas a partir da
singularidade de seus dados biogeográficos.
A Floresta Estacional Semidecidual apresenta estatura e área basal menor que as úmidas,
espécies vegetais espinhosas são comuns, seu processo de crescimento, floração e frutificação
é afetado pela sazonalidade que também atinge os elementos arbóreos dominantes, induzindo-
os ao repouso fisiológico, o que determina uma porcentagem de árvores caducifólias entre 20%
e 50% do conjunto florestal (Pennington et al., 2000; Campanili; Schäffer, 2010).
O quadro atual da floresta atlântica está baseados em altos níveis de degradação,
certamente com muitas espécies extintas antes de serem registradas. Sendo necessário alguns
esforços para sua prosperidade, como: práticas de conscientização pública da importância do
bioma, conservação dos remanescentes e prospecção da biodiversidade, somados a prática de
recuperação de áreas degradadas para manejo sustentável e principalmente interligar grandes
fragmentos florestais (Almeida, 2016).
Um dos melhores meios de garantir a proteção dessas áreas tem sido as Unidades de
Conservação (UCs) e a Mata atlântica é uma das áreas naturais com maior número de unidades
no grupo de Proteção Integral (Santos, 2010). Nos municípios brasileiros inseridos no bioma,
existem pelo menos 1.530 UCs, dados do recente levantamento divulgado pela fundação SOS
13
Mata Atlântica (2023b), o aumento do número de áreas protegidas é de grande importância para
a preservação do Bioma, que mesmo com área atual reduzida, colabora muito para que o Brasil
siga sendo considerado um país de megabiodiversidade (Almeida, 2016).
3.3 Fragmentação, Monocultura e Restauração Florestal
O processo de fragmentação se trata da alteração de ecossistemas originais em áreas
fracionadas de diferentes extensões com diferentes níveis de perturbação, essa conversão é
principalmente desencadeada pela ação humana com objetivos de extração madeireira ou
atividades agrícolas e pecuárias, sendo responsável por isolamentos dos hábitats,
interrompendo relações ecológicas, extinguindo espécies, causando alterações nas
comunidades biológicas, dentre outros prejuízos de forma direta ou indireta (Franke, 2005).
Grande vetor de fragmentação florestal, o cultivo de uma única espécie em determinado
local ou região é chamado de monocultura ou monocultivo, esse modelo ocorre em grande
intensidade em áreas rurais e no Brasil está presente desde o início do desenvolvimento agrário.
Concentrado em culturas agrícolas como a cana-de-açúcar, café e soja, são produções em
grandiosa escala visando comercialização majoritariamente para o mercado externo
(Zimmermann, 2009).
Seguindo também esse modelo produtivo, a indústria florestal brasileira, se destacou
desde a década de 1960 e 1970, principalmente por conta do FISET- Fundo de Investimento
Setorial, um programa governamental de incentivo fiscal desenhado para determinados
segmentos industriais brasileiros como o setor florestal. As indústrias de produção de celulose
e papel seguiram a corrente de desenvolvimento econômico baseada na substituição das
importações em prol da produção doméstica, cravando esse momento da história como o
principal formador da área florestada do país e colocando o Brasil como detentor de uma das
maiores áreas de floresta plantada do mundo até os dias atuais (Juvenal; Mattos, 2002; Tuoto ;
Hoeflich, 2008).
O modelo produtivo monocultural, contudo, pode causar impactos significativos ao
solo, gerando desequilíbrio ambiental, causado pelo esgotamento nutricional e desgaste físico,
além do uso indiscriminado de agrotóxicos para combate de pragas que surgem diante da
uniformização vegetal e fertilizantes para recuperação de produtividade da terra (Zimmermann,
2009).
14
Historicamente, a aplicação de técnicas de restauração no Brasil foi marcada por
inúmeras iniciativas mal sucedidas e pouco efetivas, causando prejuízos econômicos e
ecológicos, como a inserção de espécies de plantas exóticas e invasoras nos projetos, porém,
tais experiências indicaram rotas para que as ações de restauração ecológica chegassem a níveis
aceitáveis de sua efetividade, sendo necessários avanços na prática especialmente para áreas
fragmentadas e degradadas de florestas tropicais biodiversas (Brancalion et al., 2010).
A restauração de ecossistemas degradados deve ser baseada em conhecimentos sobre a
dinâmica natural e a estrutura desses hábitats, mesmo ciente da impossibilidade de retorno pleno
as condições originais, a criação de modelos de recuperação é essencial. O processo de
desenvolvimento de uma comunidade é conhecido como Sucessão Natural, e cada fase dessa
sequência é caracterizada por típicas composições florísticas e faunísticas, cujas informações
são de imprescindível importância no processo de recuperação ambiental (Almeida, 2016).
A utilização de espécies nativas no processo de restauração florestal é específica para
cada ambiente, sendo de grande importância a adição do máximo de espécies que representem
aquele ecossistema (Almeida, 2016). O que se espera das espécies nativas é reconstrução da
fisionomia florestal, as árvores de crescimento mais rápido realizam a construção de dossel
favorecendo o desenvolvimento das espécies de característica finais da sucessão, além de
arbustivas, epífitas, herbáceas e outras formas de vida do sub-bosque que atuam na proteção do
solo (Brancalion, Gandolfi, Rodrigues, 2015).
Os impactos resultantes da fragmentação florestal onde houve implantação de uma
monocultura podem ser avaliados através da análise dos organismos presentes neste
ecossistema (Silveira et al., 1995), se trata dos bioindicadores. Análise das mudanças ocorridas
na composição da vegetação, em especial a regeneração, assim como em indivíduos da fauna
de artrópodes, tem se mostrado indicadores importantes, por refletir mais rapidamente os
impactos ocorridos em ecossistemas florestais (Rocha, 2021).
3.4 Regeneração Natural
O resultante da interação de processos naturais de restabelecimento de um ecossistema
florestal é chamado Regeneração Natural, sendo a fase inicial do desenvolvimento de uma
floresta (Marangon et al., 2008).
15
O estudo da regeneração natural das áreas em processo de restauração fornece
indicativos sobre a possível evolução da floresta, os indivíduos capazes de serem recrutados
para os estágios posteriores, podendo confirmar se condições ambientais ali encontradas são
adequadas para o estabelecimento de novas árvores e a recuperação da vegetação natural (Lamb
et al. 2005; Silva, 2007; Naves, 2013).
Suganuma e Durigan (2014) afirmam que o plantio de árvores com fins de restauração
florestal por vezes pode acelerar o processo de sucessão, sendo necessário avaliações dessa
trajetória. Esse monitoramento da evolução das comunidades necessita da seleção de bons
indicadores, dentre os considerados melhores pelos autores para florestas tropicais estão a
densidade e riqueza do sub-bosque, com recomendação que esses dados dos regenerantes sejam
avaliados a partir de 5 anos após o início da intervenção de recuperação.
A análise dos regenerantes é de grande importância para conhecimento das mudanças
ecológicas sucessionais das espécies presentes em determinado fragmento. Esse dado é crucial,
por exemplo, no conhecimento da restauração de ambientes prioritários como mata ciliares.
Vegetações no entorno de lagos, rios ou nascentes podem impossibilitar processos
erosivos prejudiciais, além de cumprir inúmeros serviços ecossistêmicos, possibilitar
corredores ecológicos, movimentação de fauna, ser ambiente de dispersão de propágulos
vegetais e ainda controlar volume e vazão de água da bacia hidrográfica. A partir da perda de
suas características naturais, ambientes de mata ciliares têm sua qualidade ambiental reduzida,
prejudicando o reestabelecimento das funções do ecossistema (Alvarenga, 2016; Mallmann et
al, 2016; Lopes et al, 2016).
Desse modo, os dados de regeneração natural de determinada área, permite uma análise
concreta para diagnóstico do estado conservacional de um fragmento florestal, incluindo suas
respostas mediante as modificações antrópicas e naturais (Silva, 2007).
3.5 Fauna Edáfica
Propriedades físicas, químicas e biológicas do solo podem ser determinadas pelos
diversos organismos que o habitam, as alterações são geradas pelas interações constantes da
fauna presente no ambiente edáfico, sendo essa apresentada em três principais grupos:
microfauna, mesofauna e macrofauna, a depender do tamanho e adaptações desses espécimes
(Correia, 2002).
16
Stork e Eggleton (1992) apresentaram a classificação em seu artigo onde invertebrados
com menos de 100 μm (micrômetro), se enquadram no grupo da Microfauna, destacando os
nematoides como organismos representantes, relacionados a presença de água no solo. No
grupo da Mesofauna se enquadram a fauna com largura do corpo entre 100 μm e 2 mm,
apresentando tamanho suficiente para superar a tensão superficial da água nas partículas do
solo, mas não é grande o suficiente para perturbar a estrutura do solo. Encontramos na
mesofauna os Acari (ácaros), Collembola (colêmbolos), vermes enquitraeídeos, pequenos
Diplopoda (milípedes) e muitos pequenos insetos larvais e adultos. Já os invertebrados com 2
mm a 20 mm de largura estão classificados no grupo da Macrofauna, são os grandes o suficiente
para perturbar o solo em processos de movimentação e alimentação, destaca-se os táxons
Isopoda, Diplopoda maiores, minhocas, Isoptera (cupins), Coleoptera (besouros), Diptera
(moscas), formigas e moluscos.
Os grupos da macrofauna e da mesofauna, por conta da facilidade de sua coleta, são
comumente utilizados como bioindicadores (Baretta, 2011). A diversidade e abundância desses
grupos podem ser afetadas por fatores climáticos, edáficos, vegetais, topográficos e históricos,
estes últimos podendo ser geológicos, mas marjoritariamente por ação humana, causando
intervenções que alteram dinâmica das comunidades animais e consequentemente as funções
ecológicas em que estão envolvidos (Melo et al., 2009).
Os organismos da mesofauna atuam indiretamente na fertilidade do solo por
influenciarem a atividade microbiana, estando presentes desde a vegetação a níveis diferentes
na camada orgânica do solo (Baretta, 2011). Especialmente a macrofauna, tem papel essencial
na fragmentação de material vegetal e em outros processos do solo ainda em nível de
decomposição, através de simbioses com microorganismos (Correia, 2002).
A maior parte da grandiosa biodiversidade da fauna do solo pertence aos artrópodes,
estes são reconhecidos como indicadores eficientes do funcionamento do ecossistema, alguns
dos atributos dos artrópodes terrestres incluem sua ampla diversidade e capacidade de ocupar
micro habitats e nichos específicos (Herrera; Cuevas, 2003). Em especial, os insetos podem
desempenhar o papel bioindicador, visto que executam diversas funções na natureza, possuindo
estreita relações com processos ecológicos e sensibilidade às mudanças ambientais, assim, o
levantamento e identificação de insetos pode basear tomadas de decisões em ambientes diversos
(Wink et al.,2005).
17
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Caracterização da área de estudo
O estudo foi realizado em áreas da EET - Estação Ecológica de Tapacurá (Figura 1),
entre as coordenadas 08º03’32”S e 35º10’05”W, com altitude variando entre 150 e 200m
(Moura, 2018). A EET fica localizada no município de São Lourenço da Mata, região da Zona
da Mata do estado, distante 54 km da capital Recife (Lyra- Neves et al, 2007).
A estação ecológica, que é campus avançado da UFRPE, foi criada em 1975 pelo
Botânico e Professor João Vasconcelos Sobrinho, na área da extinta Escola Superior de
Agricultura São Bento (Moura, 2018). O fragmento florestal em meio a extensas áreas de
plantio de cana-de-açúcar tem extensão territorial total de 830 ha, sendo destes 590 ha de área
terrestre (Mata do Toró e Mata do Camocim) e 240 ha de área aquática formada pelo açude do
Rio Tapacurá (NIT-UFRPE, 2018; Moura, 2018).
O clima da região é classificado segundo Köppen em As’ - tropical quente e úmido com
precipitação anual média de 1300 mm (Lyra- Neves et al, 2007). A temperatura média anual
Figura 1: Mapa de localização da Estação Ecológica de Tapacurá, situada no município de São Lourenço da
Mata, Pernambuco, Brasil.
Fonte: Autora (2023).
18
gira em torno de 25º C, com faixas térmicas médias mensais variando de 24 a 27°C. O solo
característico da região da EET é do tipo Argissolo, sendo o mais representativo de
Pernambuco, ocupando 25% da área total do estado (CPRH, 2017).
A região de São Lourenço da Mata era originalmente coberta por Mata Atlântica e
habitada por índios tupinambás. Em meados do século XVI, colonizadores portugueses
disputaram e derrotaram os indígenas e conseguiram o acesso às terras e matas interiores,
abundantes em Pau-Brasil. A principal atividade econômica no período era a exploração da
espécie, até os primeiros registros de plantações de cana-de-açúcar e construção de engenhos
na região no início do século XVII, o que registrou o município como um importante
participante da economia açucareira brasileira (CPRH, 2017).
Dentre os bens do patrimônio cultural e histórico de São Lourenço da Mata, a cidade é
conhecida como a “Capital do Pau-Brasil” por abrigar a maior reserva da árvore no país.
Recebeu este título por causa da Estação Ecológica de Tapacurá (EET) que, a partir da
redescoberta da P.echinata na sua região, foi reflorestada em ação de conservação com cerca
de 50.000 mudas de “Pau-Brasil” nas faixas de terras entre a margem do açude Tapacurá e uma
cota de 110m da área desapropriada (Alcântara, 2013; Câmara Municipal de São Paulo, 1996;
Moura, 2018; Almeida; Oliveira, 2009).
A área florestal da EET é classificada em Floresta Estacional Semidecidual de Terras
Baixas (Veloso; Rangel-Filho; Lima, 1991), uma fitofisionomia altamente fragmentada, motivo
pelo qual foi criada uma área de reserva florestal em 1986, que foi recategorizada por duas
vezes, a primeira como Reserva Ecológica em 1987, e a segunda, sendo a atual categoria, como
Refúgio de Vida Silvestre - RVS Mata do Camucim em 2011. A unidade de conservação visa
a proteção da fitofisionomia que abriga a espécie ameaçada Paubrasilia echinata (pau-brasil)
(CPRH, 2017).
A área objeto da pesquisa, trata-se de um plantio monocultural de P. echinata (Pau-
Brasil), estabelecido em 1972 com espaçamento original de 3 m x 4 m (Santana, 2020),
localizado nas margens de um corpo hídrico (lago da barragem do tapacurá), sendo
caracterizada ambientalmente como Área de Preservação Permanente (APP) por se tratar de
ambiente de mata ciliar. Foi utilizada uma área controle, Mata Nativa, adjacente a área de
plantio de Pau-Brasil, próxima aos domínios da RVS Mata do Camucim, que será utilizada
como ambiente controle na interpretação dos dados.
19
A localização das áreas na EET pode ser visualizada na Figura 2, estando o perímetro
do Bosque de Pau-Brasil indicado na cor azul, enquanto a área de referência onde situa-se a
Mata Nativa nas cores amarela e verde.
Figura 2: Imagem de satélite do Fragmento do Camocim com proposta de zoneamento. Azul: corresponde ao
bosque de Pau-Brasil. Amarela: corresponde as áreas de mata atlântica mais bem conservadas dos fragmentos.
Verde: corresponde as áreas de mata atlântica secundária dos fragmentos.
Fonte: Adaptado de Moura, 2018.
As áreas estudadas se encontram próximas a margem do açude Tapacurá, sendo a do
Bosque de Pau-Brasil, delimitada nas suas maiores extensões, em uma das margens pela represa
e na outra margem pela mata nativa. A área considerada ecossistema de referência, Mata Nativa
(MN) pode ser visualizada na Figura 3.b, paralela ao plantio de Pau-Brasil. O local do plantio
de P.echinata, pode ser visualizado na Figura 3.a, anteriormente se tratava de uma área
desmatada, tendo sido utilizada pelo Departamento Nacional de Saneamento e pela antiga
Escola Superior de Agricultura São Bento (Almeida; Oliveira, 2009), necessitando assim de
intervenções de recuperação.
20
O plantio da espécie ameaçada foi visto como uma forma de conservação e recuperação
de área degradada. Na área se encontram árvores adultas de Pau-Brasil, que na sua maioria deve
ser resultante do plantio original, (com aproximadamente 51 anos de idade), tendo o sub bosque
composto, predominantemente por indivíduos de Pau-Brasil em regeneração nas suas diferentes
fases.
Fonte: Autora (2023).
4.2 Local de Amostragem e Coleta de dados
Figura 3: Fotos das áreas analisadas em São Lourenço, Pernambuco, Brasil. a) Bosque de Pau-Brasil (BPB); b)
Mata Nativa (MN).
a)
b)
21
No presente estudo foram utilizadas 3 parcelas em cada ambiente analisado (6 no total),
a localização específica foi registrada através de pontos coletados a partir de aparelho GPS nas
parcelas estudadas. A posição das parcelas na área da Estação Ecológica de Tapacurá (EET)
pode ser visualizada na Figura 4, a distância entre o conjunto de parcelas de cada área estudada
é de cerca de 150 metros. A coleta de dados foi realizada entre os meses de julho e setembro de
2023.
Figura 4: Imagem de satélite com marcações pontuais das parcelas utilizadas nas áreas de estudo Mata Nativa
(MN) e Bosque do Pau-Brasil (BPB)
Fonte: Google Earth (2023)
4.3 Indicadores Ecológicos
Brancalion, et al. (2012) comenta a existência de uma ampla gama de indicadores que
podem ser utilizados para a avalição de um ambiente em processo de restauração, sendo
necessário restringir essas possibilidades em função das respostas que se deseja encontrar. Para
avaliação das áreas de Bosque de Pau-Brasil (BPB) e da Mata Nativa (MN) foi realizada
medições de riqueza, diversidade, densidade, entre outros parâmetros que reflitam alterações
entre as áreas. Dentro os principais indicadores foram escolhidos para esse estudo a
Regeneração Natural e a Fauna Edáfica.
22
4.3.1 Levantamento Fitossociológico
O levantamento fitossociológico foi realizado ao final do mês de julho e início do mês
de setembro do presente ano, no período chuvoso da região, em um total de seis parcelas (3
em cada área) cada uma com medidas de 60m x 10m (600m²), totalizando uma área de 1800
m² em cada ambiente de estudo (Figura 5). As parcelas usadas para o levantamento florístico,
foram baseadas em suficiência com a área utilizada para coleta de fauna edáfica, visto a falta
de uniformidade da área total com plantio de P.echinata em relação a área total da Mata
Nativa, há diferenças de relevo e proximidade do corpo hídrico entre as áreas.
Foram considerados regenerantes os indivíduos com Circunferência a Altura do Peito
(CAP1,30m) de no máximo 15 cm e altura ≥ 1,0 m, medida na qual a caracterização morfológica
da espécie está melhor definida (Marangon et al., 2008), nos indivíduos com altura menor que
1,30m foi coletado o Diâmetro nominal basal (DNB30cm) a 30 cm do solo.
A mensuração do CAP foi realizada utilizando-se fita de bolso graduada a cada 0,5
centímetros e altura estimada com auxílio de vareta de tamanho conhecido. Foi calculado o
diâmetro dos indivíduos a partir dos valores de circunferências anotados. A identificação das
espécies foi feita em campo com a presença do profissional da área. O controle dos indivíduos
mensurados foi feito com uso de tinta spray na cor vermelha.
Fonte: Autora (2023).
As espécies foram agrupadas de acordo com o sistema de Angiosperm Phylogeny Group
IV (2016). Para a nomenclatura dos táxons foi consultado o Sistema de informação sobre a
Figura 5: Fotos da prática do levantamento fitossociológico em São Lourenço da Mata, Pernambuco, Brasil. a)
área de Bosque de Pau-Brasil (BPB); b) espécie Zanthoxylum rhoifolium, na área de Mata Nativa (MN).
23
biodiversidade Brasileira (SIBBr ), o Programa Arboretum
() e a Lista de Espécies Flora do Brasil
().
Foram registrados também para cada espécie classificações de origem (nativa ou
exótica), síndrome de dispersão baseado nas descrições de Van der Pijl (1982) em: zoocórica -
espécie dispersa por animais; anemocórica - espécie dispersa pelo vento; autocórica – auto-
dispersão; e grupo ecológico de acordo com Brancalion et al (2009) em Pioneiras – Crescimento
rápido e muito intolerante à sombra; Secundárias Iniciais – Crescimento rápido e razoavelmente
intolerante à sombra; Secundárias Tardias – Crescimento médio e com tolerância à sombra no
estado juvenil; e Climáxicas – Crescimento lento com tolerância à sombra. Essas categorias
ocorrem, em sequência apresentada, desde áreas de capoeira e clareiras até florestas em estágio
avançado de sucessão.
Para síndrome de dispersão e grupo sucessional as informações foram coletadas de
estudos realizados por Araújo (2019), Barbosa et al., (2017), Carvalho, (2002, 2007a, 2007b),
Coutinho (2012), Ferreira (2020), Freire et al., (2013), Lira (2017), Lopes et al., (2008), Matos
(2016), Silva (2013), Silva, R et al., (2012) e Silva et al., (2014).
A riqueza foi determinada pelo nº total de espécies para cada área. Foram calculados os
índices ecológicos Índice de Diversidade de Shannon-Weaver (H’), Índice de Dominância de
Simpson (D’) e a Equabilidade de Pielou (J’), Índice de Similaridade de Jaccard (SJ’) e Teste t
de Hutcheson para a área do BPB e a da MN.
Também foram calculados para cada espécie os parâmetros fitossociológicos da
estrutura horizontal: Densidade, Frequência e Dominância (absolutas e relativas) e Valor de
Importância. Para caracterização de estrutura vertical, a regeneração natural foi estimada por
classe de altura, seguindo a metodologia de Marangon et al., (2008).
4.3.2 Fauna Edáfica
Para a determinação e quantificação da fauna edáfica foram utilizadas armadilha de
coleta passiva no solo do tipo Pitfall (Figura 6). As armadilhas foram constituídas de um
recipiente plástico com 15 cm de altura, confeccionado com garrafa pet, instalado no solo com
abertura rente à superfície, contendo 200mL de solução dispersante-conservante (água,
detergente neutro e cloreto de sódio), coberto com uma peça de PVC para proteção contra
24
intempéries. Silva, Amaral (2013) afirmam que a quantidade de armadilhas e o tempo de
permanência são variáveis a depender dos objetivos e características da área a ser amostrada,
indicam 3 -5 estruturas pitfall’s por ponto de amostragem.
Fonte: Autora (2023)
A instalação das armadilhas de queda e coleta de fauna foram realizadas em julho do
presente ano, mês de período chuvoso na região. Foram instaladas 18 armadilhas no total, sendo
9 na área do Bosque de Pau-Brasil (BPB) e 9 na área de referência Mata Nativa (MN). As
estruturas de Pitfall’s foram alocadas em modelo de transectos, sendo três segmentos para cada
área de estudo no interior das parcelas utilizadas para o levantamento fitossociológico. Em cada
transecto foram instaladas 3 armadilhas equidistantes 20 metros entre si e respeitando-se a
distância de 10 metros da borda (Figura 7).
Figura 6: a) Ilustração da armadilha tipo Pitfall ; b) Copo com solução. ; c) Pitfall instalada no solo. ; d) cobertura
em PVC utilizada para coleta de fauna edáfica nas áreas de Plantio de Pau-Brasil e do Refúgio de Vida Silvestre
Mata Nativa, São Lourenço da Mata, Pernambuco, Brasil.
a)
c) b) d)
25
Figura 7: Croqui representativo da distribuição das armadilhas no transectos utilizados para levantamento da
Fauna edáfica em área de Bosque de Pau-Brasil e da Mata Nativa em São Lourenço da Mata, Pernambuco, Brasil.
Fonte: Autora (2023)
As armadilhas permaneceram em campo por 48h, após o período o material coletado
das armadilhas foi repassado para recipientes plásticos identificados por parcela e repetição,
sendo levados no mesmo dia para o LAPROF – Laboratório de Proteção Florestal da
Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, onde permaneceram refrigerados por no
máximo 48h, enquanto se realizava a triagem e transferência para recipientes com álcool 70 %
para conservação (Figura 8).
Fonte: Autora (2023)
Figura 8. Fotos dos materiais utilizados. a) recipiente da coleta do conteúdo das armadilhas; b) recipiente para
conservação com álcool, após triagem; c) lupa utilizada para visualização da fauna coletada d) amostra
representativa da fauna edáfica, em placa de petri.
a) b)
c) d)
26
A identificação da fauna edáfica foi feita em laboratório com auxílio de lupa e
bibliografia específica, sendo realizada até o nível de ordem na grande maioria dos indivíduos.
Foram calculados para a fauna edáfica a dominância, abundância, frequência, constância,
diversidade e equabilidade. A riqueza foi determinada pelo número de grupos taxômicos.
4.4 Análise de dados
4.4.1 Índices Ecológicos da Regeneração
Os índices de diversidade de espécies para as áreas de PBP e MN foram calculados em
planilhas do programa Microsoft Excel 2013 sendo o de Shannon- Weaver (H’) e o de Simpson
(D) calculados e comparados através do Teste t de Hutcheson no Programa PAST 4.03
(Hammer et al., 2012).
a) Índice de Shannon-Weaver (H’): mensura a diversidade de espécies em determinada área.
𝐻′ = − Σ 𝜌𝑖 . 𝑙𝑛 (𝜌𝑖)
Onde,
pi = ni/N;
ni = número de indivíduos da espécie i;
N = número total de indivíduos da amostra;
ln = logaritmo neperiano.
b) Índice de Dominância de Simpson (D): Este variando de 0 a 1, reflete a probabilidade de dois
indivíduos escolhidos ao acaso na comunidade pertencerem à mesma espécie, sendo o valor
mais próximo de 1 indicando maior dominância por uma ou poucas espécies.
𝐷 = 1 − Σ𝜌𝑖²
Onde,
27
Ʃρi = somatório de todos os ρi da amostra.
c) Diversidade máxima (H’máx): todas as espécies teriam a mesma abundância relativa.
𝐻′𝑚á𝑥 = ln 𝑆
Onde,
ln = logaritmo neperiano.
S= Riqueza de espécies (nº de espécies encontrado para a cada área)
d) Equabilidade de Pielou (J): métrica derivada do índice de Shannon-Weaver que descreve o
padrão de distribuição da abundância relativa das espécies na comunidade.
𝐽 =
𝐻′
𝐻′𝑚á𝑥
Onde,
H’ = Índice de Shannon-Weaver
H’máx = Diversidade máxima
e) Índice de Similaridade de Jaccard (SJ’): coeficiente que permite a avaliação da similaridade
entre as áreas amostradas.
𝐽 =
𝑐
𝑎 + 𝑏 − 𝑐
Onde,
a = nº de espécies amostradas na área 1;
b = nº de espécies amostradas na área 2;
c = nº de espécies em comum as duas áreas.
28
4.4.2 Levantamento Fitossociológico da Regeneração Natural
Os dados coletados dos regenerantes na área de Bosque de Pau-Brasil (BPB) e da Mata
Nativa (MN) foram analisados em planilhas do programa Microsoft Excel 2013. A riqueza foi
analisada a partir do número de espécies, os demais parâmetros e suas fórmulas de obtenção
referentes a estrutura horizontal e vertical, seguem dispostos a seguir:
1) Estrutura Horizontal
a) Densidade Absoluta por hectare (DAi): indica o número de indivíduos de determinada
espécie por unidade de área.
𝐷𝐴𝑖 =
𝑁𝑖
𝐴
onde,
DAi = Densidade absoluta de determinada espécie;
Ni = Número total de indivíduos amostrados;
A = Área total amostrada, em hectare
b) Densidade relativa (DRi): razão da DAi de determinada espécie pela somatória das DAis de
todas as espécies (densidade total da área em questão).
𝐷𝑅𝑖 =
𝐷𝐴𝑖
𝐷𝑇
𝑥 100
onde,
DRi = Densidade relativa, em %;
DAi = Densidade absoluta de determinada espécie;
DT = Densidade total (soma das densidades de todas as espécies amostradas).
c) Frequência Absoluta pela área de estudo (FAi)
𝐹𝐴𝑖 =
𝑈𝑖
𝑈𝑖𝑇
𝑥 100
29
onde,
FAi = Frequência absoluta, em %;
Ui = Número de parcelas que ocorre uma dada espécie;
UiT = Número total de parcelas amostradas.
d) Frequência Relativa (FRi): razão da FA de determinada espécie pela somatória das FAs de
todas as espécies.
𝐹𝑅𝑖 =
𝐹𝐴𝑖
𝐹𝐴𝑇
𝑥 100
Onde,
FRi = Frequência relativa, em %;
FAi = Frequência absoluta de determinada espécie;
FAT = Somatório das frequências absolutas de todas as espécies.
e) Dominância Absoluta (DoAi): área basal de determinada espécie por unidade de área.
𝐷𝑜𝐴𝑖 =
Σ𝑔𝑖
𝐴
onde,
DoAi = Dominância absoluta de determinada espécie;
Σgi = Somátorio da área basal dos indivíduos da determinada espécie, em m²;
A = Área amostrada, em hectare.
f) Dominância relativa (DoRi): razão da DoA de determinada espécie pela somatória das DoAs
de todas as espécies.
𝐷𝑜𝑅𝑖 =
𝐷𝑜𝐴𝑖
𝐷𝑜𝐴𝑇
onde,
30
DoRi = Dominância relativa de determinada espécie, em %;
DoAi = Dominância absoluta de determinada espécie, em m²/ha;
DoAT = Dominância total, em m² /há (soma das dominâncias absoluta de todas as espécies).
g) Valor de Importância (VI): estimador da importância ecológica de um táxon, dentro de uma
comunidade florestal.
𝑉𝐼𝑖 = 𝐷𝑅𝑖 + 𝐹𝑅𝑖 + 𝐷𝑜𝑅𝑖
𝑉𝐼 =
𝑉𝐼𝑖
3
VIi = Valor de Importância;
VI% = Valor de Importância, em %;
DRi = Densidade relativa (%) da determinada espécie;
FRi = Frequência relativa (%) da determinada espécie;
DoRi = Dominância relativa (%) da determinada espécie.
2) Estrutura Vertical
Os indivíduos regenerantes (CAP menor que 15,0 cm) foram agrupados em classes de
altura (H) de acordo com a metodologia de Marangon et al., (2008), em que:
Classe 1 (C1) = 1,0 ≤ H ≤ 2,0 m
Classe 2 (C2) = 2,0 < H ≤3,0 m
Classe 3 (C3) = H > 3,0 m
Em seguida, foi obtida a estimativa da regeneração natural para cada classe de altura
(RNC) a partir da soma dos parâmetros de frequência e densidade absoluta, que também foram
calculados por espécie e classes de altura dos regenerantes. A estimativa de regeneração total
(RNT) foi calculada a partir da soma dos índices de regeneração natural por classe de altura.
31
4.4.3 Fauna Edáfica
Os dados da fauna edáfica coletada nas áreas de Bosque de Pau-Brasil (BPB) e Mata
Nativa foram utilizados no programa de análises faunísticas ANAFAU (Moraes et al., 2003),
que fornece informações de frequência, abundância, dominância, constância, além dos índices
de Diversidade (Shannon-Weaver) e Índice de Uniformidade ou Equabilidade. O índice de
Shannon – Weaver e a Dominância de Simpson foram calculados e comparados pelo Teste t de
Hutcheson no programa PAST 4.03.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Levantamento da Regeneração Natural
No levantamento da regeneração natural (Tabela 1) ocorrente na área de monocultivo
de Pau-Brasil, foram amostrados 818 indivíduos, pertencentes a 6 famílias botânicas, de 8
gêneros e 8 espécies. Na área controle de mata nativa, foram observados 107 indivíduos,
pertencentes a 16 famílias botânicas, de 24 gêneros e 25 espécies.
Tabela 1. Listagem em ordem alfabética das famílias com suas espécies (nome científico e nome popular)
encontradas na área amostrada de bosque de Pau-Brasil (BPB) e da Mata Nativa (MN) em São Lourenço – PE.
FAMÍLIA/ESPÉCIE
NOME
POPULAR
Nº Indivíduos
OR MD GE
BPB MN
Anacardiaceae
Mangifera indica L. Mangueira - 2 E zoo P
Araliaceae
Schefflera morototoni (Aubl.)
Maguire, Steyerm. & Frodin
Sambaquim - 1 N zoo P
Bignoniaceae
Handroanthus heptaphyllus (Vell.)
Mattos
Ipê-rosa - 2 N ane CL
Boraginaceae
Cordia sellowiana Cham. Freijó-branco - 2 N zoo P
Burseraceae
32
FAMÍLIA/ESPÉCIE
NOME
POPULAR
Nº Indivíduos
OR MD GE
BPB MN
Protium heptaphyllum (Aubl.)
Marchand
Amescla-de-Cheiro 1 1 N zoo SI
Erythroxylaceae
Erythroxylum passerinum Mart. Cumixá 6 - N zoo ST
Fabaceae
Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon,
H.C.Lima & G.P.Lewis
Pau-Brasil 798 2 N au CL
Machaerium hirtum (Vell.) Stellfeld Espinho de Judeu - 1 N ane P
Inga edulis Mart. Ingazeira - 4 N zoo SI
Hypericaceae
Vismia guianensis (Aubl.) Choisy Lacre - 1 N zoo P
Lamiaceae
Vitex sp - - 2 - SC -
Moraceae
Sorocea hilarii. Gaudich. Pau-tiú - 12 N zoo P
Artocarpus heterophyllus Lam. Jaqueira - 3 E zoo SI
Myrtaceae
Campomanesia dichotoma (O.Berg)
Mattos
Guabiroba - roxa - 2 N zoo ST
Myrciaria ferruginea O. Berg - - 1 N SC SI
Nyctaginaceae
Guapira laxa (Netto) Furlan Farinha-seca - 2 N zoo SI
Rhamnaceae
Ziziphus joazeiro Mart Juazeiro - 2 N zoo P
Rubiaceae
Chomelia sp - 1 6 - SC -
Tocoyena sp - - 2 - SC -
Genipa americana. L Jenipapeiro - 2 N au P
Rutaceae
Zanthoxylum rhoifolium Lam. Mama-de-cadela - 1 N zoo P
Salicaceae
Casearia aculeata Jacq. - 2 10 N zoo SI
Casearia sylvestris Sw. - - 4 N zoo SI
Sapindaceae
33
FAMÍLIA/ESPÉCIE
NOME
POPULAR
Nº Indivíduos
OR MD GE
BPB MN
Talisia esculenta (A. St.-Hil.) Radlk. Pitombeira 2 1 N zoo SI
Cupania impressinervia Acev.-Rodr. Cabuatã-de-rego 2 32 N zoo SI
Allophylus edulis (A.St.-Hil. et al.)
Hieron. ex Niederl.
Chal Chal 6 9 N zoo ST
TOTAL 818 107
*Família e espécies Não Identificadas (NI). Origem (OR): Nativa (N); Exótica (E). Mecanismo de Dispersão
(MD): Zoocoria (zoo); Anemocoria (ane); Autocoria (aut); Sem caracterização (SC). Grupo Ecológico (GE):
Pioneira (P); Secundária inicial (SI); Secundária tardia (ST); Clímax (CL).
A superioridade na quantidade de espécies encontradas na área da Mata do Camocim
em comparação a área de monocultivo de Pau-Brasil, é sugestivo da ocorrência de algum filtro
ecológico que esteja agindo dentro da área do BPB. Visto que não há barreiras físicas ou de
distância que impeçam a chegada dos propágulos da biodiversidade existente na mata até a área
com P. echinata. Além disso, considerando o tempo de estabelecimento de plantio da espécie,
cerca de 50 anos, e o espaçamento adotado, pode ser considerado suficiente para o
estabelecimento de um sub-bosque com maior biodiversidade, quando observados outros
monocultivos no bioma e até na mesma fitofisionomia.
Lopes et al., (2016) em levantamento de regeneração em sub-bosque de monocultivo de
Pinus caribaea em Saltinho-PE, com tempo de implantação de 42 anos, observou a presença
de 30 espécies da flora local e analisando sua dinâmica de levantamentos anteriores, constatou
que o povoamento de Pinus caribaea, não está impedindo o surgimento de novos indivíduos e
espécies.
Alencar et al., (2011), observando a regeneração sobre plantio monocultural de
Eucalipto na zona da mata sul de Pernambuco, contatou a presença de 39 espécies, concluir que
o eucalipto possibilita a regeneração de espécies nativas no sub-bosque.
Ao analisar diversos outros estudos referentes ao sub bosque com monocultivo de
espécies florestais, tanto nativas quanto exóticas, pode-se perceber que, dependendo do
espaçamento adotado e este permitindo a entrada de luz no sub bosque, a diversidade deste não
vem sendo comprometida, em situações que a área tenha resiliência para estabelecer a mesma
(Nappo et al., 2005; Onofre, Engel, Cassola, 2010; Rocha, 2021).
34
Entretanto, a espécie P. echinata pode estar refletindo efeito alelopático na condição de
cultivo monoespecífico, devendo esse fato ser investigado para tentar entender se esse filtro
está atuando sobre a regeneração do seu sub bosque. Oliveira et al., (2005) estudou algumas
espécies florestais nativas que possuem efeitos alelopáticos, como a Albizia blanchetii,
Chloroleucon tortum e Copaifera langsdorffii.
Albuquerque, Paz e Machado (2020) atestaram em sua pesquisa o efeito alelopático de
extratos aquosos de Pau-Brasil na germinação de sementes de alface, alertando sobre o uso da
espécie em programas de reflorestamento e a adoção de medidas que possam minimizar esses
efeitos sobre plantas associadas no plantio.
A área do Bosque de Pau-Brasil (BPB) superou a área controle no quantitativo de
indivíduos sendo registrados um total de 818 em contraste com os 107 na área Mata Nativa
(MN). No entanto, na área do Pau-Brasil 97,5% dos indivíduos registrados são do próprio Pau-
Brasil, sendo constatada elevada dominância desta espécie na sua área de plantio, nas diferentes
classes da regeneração.
A riqueza dos regenerantes foi de 8 e 25 espécies para a área de BPB e MN,
respectivamente (Tabela 2). A superioridade na quantidade de espécies encontradas na área da
Mata Nativa em comparação a área de Bosque de Pau-Brasil é um dado esperado, visto que a
área considerada referência apresenta estágio de sucessão mais avançado em relação ao
ecossistema em processo de restauração. Tal fato pode ser verificado nos estudos semelhantes
realizados por Sobrinho (2019) e Carnauba (2020).
As espécies E. passerinum e A. edulis, ressaltam-se em quantitativo logo após o Pau-
Brasil na área do monocultivo, mas somadas não chegam a chegam a 1,5% do total de
indivíduos amostrados.
Observou-se que na área de referência, Mata Nativa (MN) a espécie mais presente foi a
C. impressinervia, representando cerca de 29% dos indivíduos contabilizados, Lira (2017)
registrou esta espécie como terceira mais presente no seu levantamento em área de fragmento
de mata atlântica no município de Abreu e Lima (PE). A segunda espécie mais presente foi S.
hilarii com 11,2%, e a terceira foi C. aculeata, cuja presença chega a cerca de 9,3% do total de
indivíduos amostrados no ecossistema de referência, sendo esta última também observada em
levantamento realizado em um fragmento de mata atlântica de mesma tipologia vegetacional
em Viçosa - Minas Gerais, por Marangon et al., (2007).
35
Na MN é registrada a presença de duas espécies exóticas, M. indica e A. heterophyllus,
provavelmente foram implantadas por ação humana de populações que outrora utilizaram das
áreas. Essas espécies, conhecidamente invasoras, não possuem inimigos naturais no
ecossistema brasileiro, o que acaba por favorecer características de rápido crescimento, algumas
delas se distribuem rapidamente o que pode ser prejudicial a sobrevivência de espécies nativas
e a unidade dos ecossistemas (Brancalion et al., 2009).
A família mais representada da área do Bosque de Pau-Brasil foram a Sapindaceae com
3 espécies, as outras cinco famílias foram representadas por apenas uma espécie cada. Na área
de referência Mata Nativa, a família Sapindaceae também foi destaque, em conjunto com
Fabaceae e Rubiaceae registrando 3 espécies cada, seguidas das famílias, Moraceae, Myrtaceae,
Salicaceae com duas espécies cada e o restante (10 famílias) com apenas uma espécie
representante.
As Leguminosae (Fabaceae) juntamente com Bignoniaceae são dominantes na flora
lenhosa das florestas estacionais semideciduais, outras famílias que se destacam em proporções
semelhantes são a Anacardiaceae, Myrtaceae, Rubiaceae, Sapindaceae e Flacourtiaceae (atual
Salicacea) (Pennington et al., 2000), todas as citadas foram representadas nesta pesquisa.
A família Fabaceae também foi a de maior riqueza nos levantamentos feitos em outros
trabalhos semelhantes (Andrade; Rodal, 2004; Rocha, 2021; Silva, 2018; Sobrinho, 2019). Essa
família tem destaque na florística de várias formações vegetacionais do Brasil, sobretudo em
áreas da Mata Atlântica, sendo uma das responsáveis pela grande diversidade vegetal dessas
florestas (Zimmermann, 2012).
Os índices de diversidade calculados para as áreas de BPB e MN podem ser visualizados
na Tabela 2. Os valores obtidos de diversidade de Shannon-Weaver e Dominância de Simpson
apresentaram diferenças significativas pelo Teste t de Hutcheson no nível de 95% de
probabilidade.
Tabela 2. Riqueza total e Índices de diversidade Shannon-Weaver (H’), Dominância de Simpson (D’),
Equabilidade de Pielou (J’) dos regenerantes arbóreos das áreas amostradas de bosque de Pau-Brasil (BPB) e da
Mata Nativa (MN) no município de São Lourenço, Pernambuco, Brasil.
Área de estudos BPB MN
Nº de espécies 8 25
H’ 0,16a 2,60b
D’ 0,95a 0,13b
J’ 0,08 0,81
36
*Para H’ e D’ os valores seguidos da mesma letra na linha, não diferem entre si (α < 0,05) pelo Teste de t de
Hutcheson.
Maiores valores de diversidade e equabilidade na área de referência já são esperados,
visto o superior nível sucessional dessas áreas em comparação a áreas em processo de
restauração como o bosque de Pau-Brasil estudado. A área MN apresentou índice de Shannon
(H’) igual a 2,60 nats/ind e a BPB com 0,16 nats/ind. A interpretação deste índice se limita a
estudo comparativo, seu valor em si é algo abstrato (Melo, 2008).
A diversidade de espécies é definida a partir de uma relação entre o número de espécies
(riqueza) e a distribuição do número de indivíduos entre as espécies (equabilidade) (Walker,
1989, apud Albuquerque. 2009, p.60). Neste sentido, valor baixo de diversidade na área do
BPB em comparação a MN, se explica pela influência do quantitativo grandioso de indivíduos
de uma única espécie (Pau-Brasil).
Por outro lado, o índice de dominância pode ser interpretado sozinho, por estar
relacionado a proporção de indivíduos da comunidade que pertencem a uma determinada
espécie (Melo, 2008). O alto valor do índice de Simpson (D’) na área do BPB evidencia a maior
dominância de Pau-Brasil em relação a outras espécies da área, o que confirma os resultados
encontrados para a diversidade de Shannon. Para a área de MN a dominância foi
acentuadamente baixa, evidenciando a mínima chance de dois indivíduos de mesma espécie
serem escolhidos ao acaso.
Já o índice de Equabilidade, também chamado de uniformidade de Pielou (J’), varia de
0 a 1, quanto mais próximo de 1 mais uniforme se encontra aquela comunidade e o inverso
indica tendência de uma espécie dominar a área. O resultado deste, corrobora com os anteriores,
confirmando a influência da espécie P.echinata na área do BPB, ocasionando falta de
uniformidade entre as espécies na área. Em contraposto temos a MN com 0,81 de índice de
equabilidade, atestando uma caracterização de uniformidade das espécies distribuídas na área
de referência.
O número de espécies em comum nas áreas de BPB e MN pode ser observado na Figura
9. Foi verificada a ocorrência de 7 espécies em comum no estrato regenerante das áreas
avaliadas, enquanto 1 e 18 ocorreram de forma exclusiva no BPB e MN, respectivamente. Entre
as espécies comuns podemos citar A. eduli, C. aculeata, T. esculenta, dentre outras.
37
Fonte: Autora (2023)
A partir da obtenção deste dado, calculou-se o índice de Índice de Jaccard (SJ’)
resultando no valor de 0,26 ou 26% de similaridade entre as áreas. Este índice trata-se de um
valor variando de 0 a 1 (onde 1 significa similaridade máxima ou 100%), ou seja, expressa o
quanto os ecossistemas são similares florísticamente (Scolforo, 2008). Para que as áreas sejam
consideradas semelhantes, o índice de Jaccard deve ser superior a 0,25 (Müeller-Dombois;
Ellenberg, 1974, apud Suganuma e Durigan, 2014).
A similaridade entre as áreas pode estar atrelada à pouca distância entre os locais
amostrados (aproximadamente 150m) bem como a síndrome de dispersão de 6 das 7 espécies
em comum, sendo por meio da fauna, que por ventura transita entre as áreas.
Os quantitativos das espécies por categoria de dispersão das espécies amostradas pode
ser visualizada na Figura 10, onde SC são as espécies que não foi encontrado dados. A dispersão
zoocórica foi a mais expressiva entre as áreas analisadas, sendo 17 espécies na área do BPB
representando 75% do total de espécies encontradas na área do monocultivo, já na área de MN
foram 6 que representa 68% do total. Sendo resultado importante principalmente para a área do
BPB que está em restauração. A presença de espécies zoocóricas sinaliza atuação de fauna
dispersora entre núcleos e remanescentes de fragmentos florestais das áreas, essa fauna atua na
amplificação de ocorrências dessas espécies (Sobrinho, 2019).
Figura 9. Diagrama de Venn com o número de espécies comuns encontradas no estrato regenerante das áreas do
Bosque de Pau – Brasil (BPB) e da Mata Nativa (MN) em São Lourenço da Mata, Pernambuco, Brasil.
38
Figura 10. Gráfico com quantidade de espécies para cada categoria de síndrome de dispersão encontradas na
regeneração em área do Bosque de Pau-Brasil (BPB) a da Mata Nativa (MN) em São Lourenço da Mata,
Pernambuco, Brasil.
Fonte: Autora (2023)
A dispersão por zoocoria também se apresentou de forma predominante em outros
estudos de áreas em processo de restauração, bem como nas respectivas áreas de referências
(Andrade, 2018; Carnauba, 2020 Rocha, 2021). De acordo com Tabarelli; Peres (2002), a
dispersão de sementes mediada por animais em florestas tropicais, supera a dispersão pelo
vento, água ou outros meios.
O padrão de dispersão de sementes não determina apenas a área potencial de
recrutamento das plantas, serve também como base para os processos posteriores, tais como a
competição, predação e reprodução (Nathan; Muller Landau, 2000).
Em locais com maiores diversidade de composição florística, haverá em conjunto uma
maior diversidade faunística e devido a busca de alimentos, uma consequente maior dispersão
de sementes. Tal fato, fortalece a importância da proteção de áreas, pois essas formações
vegetacionais dependentes da fauna podem ser prejudicadas na ausência de dispersores, visto
que muito desses podem não frequentar áreas pertubadas, por conta do risco de predação.
Sobre o grupo sucessional ou ecológicos das espécies (Figura 11), não foram registradas
espécies pioneiras em área de monocultivo de Pau-Brasil, sendo o grupo das espécies
secundárias iniciais as mais presentes entre as espécies encontradas na regeneração, essa
Autocórica
Zoocórica
Anemocórica
SC
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Síndrome de dispersão
BPB MN
39
classificação tende a substituir as espécies pioneiras, sendo pouco exigentes quanto aos
nutrientes do solo (Cruz, 2015).
Fonte: Autora (2023)
Vale realçar a tipologia sucessional do Pau-Brasil, sendo uma espécie clímax se
caracteriza pelo crescimento lento e amadurecimento tardio do sistema reprodutivo, mas um
alto investimento na reprodução (Cruz, 2015)
Na MN os percentuais de espécies pioneiras e secundárias inicias foram iguais, sendo
as duas categorias que se favorecem de clareiras para seu crescimento. A presença de espécies
do grupo das pioneiras e secundárias no ecossistema de referência pode estar relacionado ao
fato da área ter sofrido pertubações em algum momento passado, inclusive pela proximidade
com a área que outrora sofreu desmatamento. A formação de aberturas no dossel é um evento
significativo na evolução das comunidades vegetais tropicais, desde a maneira como se origina
uma clareira até como a vegetação se recupera desta, contribui para a diversidade de estágios e
padrões que as espécies podem exibir (Figueiredo, 2017).
A proporção de espécies da posição ecológica Secundária tardia não apresentou grandes
diferenças entre as áreas de estudo, sendo a área de BPB com maior presença, isso pode ser
explicado pela forte presença de regeneração de Pau-Brasil e o maior sombreamento gerado por
essa espécie na área. As secundárias tardias são mais exigentes, preferindo sub-bosques com
maior sombreamento (Brancalion et al., 2009).
Figura 11. Gráfico com as proporções em porcentagem das categorias de Grupos Sucessionais das espécies
encontradas na área do Bosque de Pau-Brasil (BPB) e Mata Nativa (MN) em São Lourenço da Mata, Pernambuco,
Brasil. (Onde: P – Pioneiras; SI – Secundárias Iniciais; ST – Secundárias Tardias; CL – Clímax; Nc – Não
caracterizada.)
40
No BPB, a presença da espécie P.echinata atingiu 94,80% de dominância relativa
(Tabela 3) o que confirma outra vez a superioridade em quantitativos da espécie no local. O
enquadramento do Pau-Brasil no grupo sucessional climáxicas, caracteriza a espécie como
tolerante a condições de sombreamento, tendendo a formar banco de sementes e
consequentemente ocupar sub-bosques (Brancalion et al., 2009).
Devido a essa presença massiva da espécie, apresentou 70,79% de resultado para o valor
de importância (VI) na área em restauração. As interações entre espécies vegetais
desempenham um papel fundamental na determinação da composição e na dinâmica das
comunidades vegetais em diferentes ecossistemas. Podendo ser negativas (competição),
positivas (facilitação) ou complexas (simultaneamente competição e facilitação) as interações
interespecíficas estão correlacionadas com o processo de sucessão ecológica (Bertoncello,
2016).
Neste caso do Pau-Brasil, por se tratar inicialmente de uma área degradada, com
condições de estresse abiótico, a interação de facilitação seria destaque no processo de
restauração, sendo o principal processo estruturador da comunidade beneficiando outras
espécies (Bertoncello, 2016). Porém, como uma só espécie se apresenta beneficiada, o
povoamento do BPB pode estar atuando como competidor, gerando um ambiente inadequado
ao desenvolvimento de outras espécies por conta da alta competitividade, sendo necessário
estudos que possibilitem a visualização clara desses fatores na área.
Outras espécies de destaque em valor de importância na área do BPB foi a A. edulis e a
E. passerinum apresentando um valor de importância de cerca de 7% cada, ambas do tipo
zoocórica no padrão de dispersão de sementes, evidenciando a atuação da fauna dispersora no
aumento de riqueza desse ecossistema. Essas mesmas espécies e o Pau-Brasil, apresentaram
frequência relativa de 20% cada, isso por estarem presentes nas três parcelas, ou seja, estando
bem distribuídas no BPB.
41
Tabela 3. Parâmetros fitossociológicos da estrutura horizontal referentes aos indivíduos da regeneração natural nas áreas do Bosque de Pau-Brasil (BPB) e da Mata Nativa
(MN) em São Lourenço da Mata – PE.
Espécies
Ni DA DR (%) FA (%) FR (%) DoA DoR (%) VI (%)
BPB MN BPB MN BPB MN BPB MN BPB MN BPB MN BPB MN BPB MN
Allophylus edulis 6 9 3,33 5,00 0,73 8,4 100 67 20,0 4,7 0,0036 0,0048 1,50 10,67 7,41 7,91
Artocarpus heterophyllus 3 1,67 2,8 67 4,7 0,0010 2,28 3,25
Campomanesia dichotoma 2 1,11 1,9 67 4,7 0,0015 3,33 3,28
Casearia aculeata 2 10 1,11 5,56 0,24 9,3 67 100 13,3 7,0 0,0014 0,0026 0,57 5,86 4,72 7,39
Casearia sylvestris 4 2,22 3,7 100 7,0 0,0021 4,67 5,13
Chomelia sp 1 6 0,56 3,33 0,12 5,6 33 100 6,7 7,0 0,0004 0,0049 0,15 10,78 2,31 7,79
Cordia sellowiana 2 1,11 1,9 67 4,7 0,0002 0,44 2,32
Cupania impressinervia 2 32 1,11 17,78 0,24 29,9 33 100 6,7 7,0 0,0011 0,0124 0,45 27,40 2,45 21,43
Erythroxylum passerinum 6 3,33 0,73 100 20,0 0,0056 2,32 7,68
Genipa americana 2 1,11 1,9 67 4,7 0,0014 3,18 3,23
Guapira laxa 2 1,11 1,9 67 4,7 0,0014 3,18 3,23
Handroanthus heptaphyllus 2 1,11 1,9 33 2,3 0,0001 0,29 1,49
Inga edulis 4 2,22 3,7 33 2,3 0,0002 0,55 2,20
Machaerium hirtum 1 0,56 0,9 33 2,3 0,0006 1,41 1,56
Mangifera indica 2 1,11 1,9 67 4,7 0,0015 3,31 3,28
Myrciaria ferruginea 1 0,56 0,9 33 2,3 0,0001 0,30 1,19
42
Espécies
Ni DA DR (%) FA (%) FR (%) DoA DoR (%) VI (%)
BPB MN BPB MN BPB MN BPB MN BPB MN BPB MN BPB MN BPB MN
Paubrasilia echinata 798 2 443,33 1,11 97,5 1,9 100 33 20 2,3 0,2293 0,0014 94,80 3,19 70,79 2,46
Protium heptaphyllum 1 1 0,56 0,56 0,12 0,9 33 33 6,7 2,3 0,0001 0,0001 0,04 0,30 2,28 1,19
Schefflera morototoni 1 0,56 0,9 33 2,3 0,0005 1,08 1,45
Sorocea hilarii 12 6,67 11,2 67 4,7 0,0048 10,67 8,84
Talisia esculenta 2 1 1,11 0,56 0,24 0,9 33 33 6,7 2,3 0,0004 0,0000 0,18 0,09 2,36 1,12
Tocoyena sp 2 1,11 1,9 67 4,7 0,0002 0,34 2,29
Vismia guianensis 1 0,56 0,9 33 2,3 0,0000 0,09 1,12
Vitex sp 2 1,11 1,9 67 4,7 0,0016 3,57 3,36
Zanthoxylum rhoifolium 1 0,56 0,9 33 2,3 0,0011 2,35 1,87
Ziziphus joazeiro 2 1,11 1,9 33 2,3 0,0003 0,66 1,62
TOTAL 818 107 454,44 59,44 100 100 500 1433 100 100 0,242 0,0452 100 100 100 100
Ni = número de indivíduos; DA = Densidade Absoluta; DR = Densidade Relativa; FA = Frequência Absoluta; FR = Frequência Relativa; DoA = Dominância Absoluta; DoR
= Dominância Relativa; VI = Valor de Importância.
43
Na área da MN a espécie destaque em valor de importância foi a C. impressinervia, com
21,43%, sendo a única a atingir valor acima dos 10%, evidenciando relevância ecológica da
espécie nesta comunidade em quesito de regeneração.
Outro ponto a ser analisado na área da Mata Nativa é a presença da espécie P.echinata,
os indivíduos regenerantes encontrados nesse ecossistema foram contabilizados na parcela
MN3, que apresenta uma maior proximidade com a trilha principal que divide as áreas, e
portanto tem um segmento de borda com grande presença da regeneração de Pau-Brasil. Mas,
isso não exclui de maneira alguma a presença natural característica da espécie na área, Andrade
e Rodal (2004), registraram o táxon como um dos mais importantes em levantamento
fitossociológico na Mata do Toró, fragmento vizinho da Mata Nativa, com alturas de 26 a 32m.
As estimativas de regeneração natural total para a área do BPB estão expostas na Tabela
4. Apenas a espécie P. echinata apresentou indivíduos nas três classes de altura, isto permite
aferir que esta espécie está se desenvolvendo continuamente na área, apresentando uma
estimativa de 78,4 % de regeneração natural. As espécies A. edulis, E. passerinum e C.
impressinervia apresentaram indivíduos em duas classes de altura.
A classe 3 (C3) foi a que apresentou maior representatividade de espécies com 87%,
seguida da classe 2 (C2) com 62,5% do total de espécies encontradas a nível de regeneração.
Tabela 4. Espécies amostradas na área do Bosque de Pau-Brasil (BPB), por classe de altura, listadas em ordem
decrescente de acordo com maior valor da Regeneração Natural Total (RNT).
Espécies RNC1 (%) RNC2 (%) RNC3 (%) RNT (%)
P. echinata 100 70,6 64,7 78,4
A. edulis 7,3 6,3 4,5
E. passerinum 7,6 6,0 4,5
C. impressinervia 7,3 5,7 4,3
Chomelia sp 7,3 2,4
C. aculeata 5,8 1,9
T.esculenta 5,8 1,9
P. heptaphyllum 5,7 1,9
TOTAL 100 100 100 100
RNC1 = Regeneração Natural na Classe 1; RNC2 = Regeneração Natural na Classe 2; RNC3 = Regeneração
Natural na Classe 3.
44
Os resultados de RNT para o ecossistema de referência MN se encontram na Tabela 5.
Apenas 20% das espécies apresentaram indivíduos nas três classes de altura, sendo a C.
impressinervia a de maior valor de Regeneração Natural Total (RNT). O Cabuatã-de-rego é
uma espécie classificada em secundária inicial, ou seja, característica de florestas secundárias
se favorecendo de clareiras (Brancalion et al., 2009) e de síndrome de dispersão zoocórica,
sendo um tipo de fonte essencial em áreas de referência, pois contribui na regeneração florestal
5no sub-bosque de florestas plantadas adjacentes (Souza et al., 2007).
As classes C1 e C3 apresentaram a mesma proporção de espécies amostradas (56%),
superando a C2 (48%).
As espécies S. hilarii, C. aculeata e A. edulis apresentaram valores semelhantes de RNT
e foram encontrados nas três classes de altura. Essas três espécies foram registradas na Mata do
Toró por Andrade e Rodal (2004).
Cinco espécies foram registradas em duas classes de altura na regeneração da MN,
listadas do maior ao menor valor de regeneração natural total, são elas: C. sylvestris, A.
heterophyllus, C. dichotoma, P. echinata e Z. joazeiro. Destas, destaca-se A .heterophyllus
(Jaqueira), por sua origem exótica e de potencial invasor.
Tabela 5. Espécies amostradas na área da Mata Nativa (MN), por classe de altura, listadas em ordem decrescente
de acordo com maior valor da Regeneração Natural Total (RNT).
Espécies RNC1 (%) RNC2 (%) RNC3 (%) RNT (%)
C. impressinervia 12,2 18,7 26,2 19
S. hilarii 4,8 16,4 7,1 9,4
C. aculeata 8,5 8,5 9,5 8,8
A. edulis 4,8 4,9 14,3 8
Chomelia sp 4,8 12,1 3,6 6,8
C. sylvestris 9,6 7,1 5,6
A.s heterophyllus 7,2 3,6 3,6
I. edulis 10,3 3,4
C. sellowiana 9,6 3,2
Tocoyena sp 9,6 3,2
C. dichotoma 4,8 3,6 2,8
45
Espécies RNC1 (%) RNC2 (%) RNC3 (%) RNT (%)
G. americana 7,2 2,4
G. laxa 7,2 2,4
M. indica 7,2 2,4
P. echinata 3,6 3,6 2,4
Vitex sp 7,1 2,4
Z. joazeiro 3,6 3,6 2,4
H. heptaphyllus 6,6 2,2
M. ferruginea 4,8 1,6
T. esculenta 4,8 1,6
V. guianensis 4,8 1,6
M. hirtum 3,6 1,2
P. heptaphyllum 3,6 1,2
S. morototoni 3,6 1,2
Z. rhoifolium 3,6 1,2
TOTAL 100 100 100 100
RNC1 = Regeneração Natural na Classe 1; RNC2 = Regeneração Natural na Classe 2; RNC3 = Regeneração
Natural na Classe 3.
Salienta-se a presença significativa nas áreas estudadas de exemplares de Syagrus
cearenses (Palmeira-catolé) nativa do nordeste do Brasil, Elaeis guineenses (Dendezeiro) além
de aglomerados de Sansevieria trifasciata (Espada de são Jorge) (Figura 12), Bromélia Gravataí
e Macambira, Helicônias, representantes da família Araceae, Caladium e Piperaceae, além de
Taquara-lixa, um bambu que ocupa clareiras e não permite a regeneração de espécies nativas.
46
Fonte: Autora (2023).
5.2 Fauna Edáfica
A fauna do solo foi representada por um total de 20 grupos taxonômicos, sendo destes
17 a nível de ordem, 1 a nível de classe, 1 a nível de sub-filo e 1 ao nível de filo (Figura 13). O
total coletado foi de 1506 indivíduos representantes da meso e macrofauna do solo, tendo
destaque as ordens Hymenoptera e Collembola, em termos de quantidade de indivíduos, nos
dois ambientes em estudo (Tabela 6).
Figura 12. Detalhe do domínio de indivíduos de espada de são Jorge em trechos do sub bosque das áreas
pesquisadas em São Lourenço da Mata, Pernambuco, Brasil.
47
Tabela 6. Quantitativo de indivíduos por grupo taxonômico (GT) da Fauna Edáfica amostradas na área do Bosque
de Pau-Brasil (BPB) e Mata Nativa (MN) em São Lourenço da Mata, Pernambuco, Brasil.
GT
Ni FA(%) FR(%)
BPB MN BPB MN BPB MN
Acari 28 25 66,7 88,9 3,3 3,8
Amphibia 2 22,2 0,3
Annelida 2 2 11,1 22,2 0,2 0,3
Araneae 31 33 100,0 100,0 3,7 5,0
Blattodea 1 11,1 0,1
Chilopoda 1 11,1 0,2
Coleoptera 15 16 66,7 100,0 1,8 2,4
Collembola 230 182 100,0 100,0 27,4 27,3
Diplopoda 1 11,1 0,1
Diplura 10 4 55,6 33,3 1,2 0,6
Diptera 127 145 100,0 100,0 15,1 21,8
Hemiptera 8 16 66,7 66,7 1,0 2,4
Hymenoptera 300 177 100,0 100,0 35,7 26,6
Isopoda 17 4 44,4 44,4 2,0 0,6
Opiliones 2 22,2 0,3
Orthoptera 30 11 100,0 77,8 3,6 1,7
Protura 38 44 77,8 77,8 4,5 6,6
Psocodea 1 11,1 0,2
Pseudoscorpiones 2 22,2 0,2
Squamata 1 11,1 0,2
TOTAL 840 666 933 989 100 100
Ni = Número de indivíduos; FA = Frequência Absoluta; FR = Frequência Relativa.
48
Fonte: Autora (2023)
Em número de indivíduos coletados a área do BPB superou a MN com 840 e 666,
respectivamente. Ainda assim, em número de grupos taxonômicos a área de referência obteve
maior riqueza com 17, enquanto a área em restauração apresentou 15.
Na área BPB as ordens com mais indivíduos amostrados foram Hymenoptera,
Collembola e Diptera, a frequência registrada foi 35,7%, 27,4%, e 15,1%, respectivamente das
ordens citadas, já na área da MN a mais representada foram a Collembola com 27,3%, seguida
de Hymenoptera com 26,6% e Diptera com 21,8%.
As formigas são dominantes na maioria dos ecossistemas terrestres, optando por
ambientes de menor competição por espaços e menor presença de predadores (Baretta et al.,
2011), o que pode justificar o maior registro dessa ordem na área do BPB que por conta de sua
menor diversidade vegetacional pode não favorecer a presença dos predadores de Hymenoptera.
Baretta et al., (2003) afirma que em sistemas de monocultura, os depósitos de resíduos vegetais
provenientes de uma única espécie podem provocar perdas em níveis de diversidade biológica
do solo.
Além dos fatos supracitados, o Pau-brasil é uma espécie que costuma ser facilmente
colonizada por hemípteras sugadores, como pulgões, cochonilhas e soldadinhos (Carrano-
Moreira, 2014) e estes insetos formam colônias que são protegidas por espécies de formigas
Figura 13. Fotos dos exemplares de Fauna edáfica encontrados na área de Bosque de Pau-Brasil e Mata Nativa
em São Lourenço da Mata, Pernambuco, Brasil. (sendo: (a) Coleoptera; (b) Araneae; (c) Hemiptera; (d) Isopoda;
(e) Collembola; (f) Acari; (g) Diplopoda; (h) Hymenoptera.)
a) b) c) d)
e) f) g) h)
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(Hymenopteras), podendo este fato reforçar ainda mais a presença das formigas nas armadilhas
desta área.
A representação expressiva da ordem Collembola também foi observada por Rocha,
(2021) e Machado et al., (2015). Os colêmbolos exercem papel de importância no controle da
população e distribuição de bactérias e fungos do solo (Berude et al., 2015). Esses artrópodes
pertencentes a mesofauna do solo são considerados indicadores da qualidade do solo por ter sua
diversidade e abundância influenciados por cobertura vegetal, disponibilidade de água,
quantidade e qualidade de matéria orgânica do solo.
Em áreas alteradas, este grupo costuma ocorrer em menor quantidade, apesar disso no
estudo em questão, o local cultivado com Pau-Brasil, foi onde observou-se maior quantidade
de indivíduos. Apesar de ter-se constatado fortes alterações na florística deste ambiente, devido
a sua localização no terço inferior de uma encosta e estar adjacente a um corpo hídrico (açude),
esta área pode estar recebendo materiais orgânicos, via lixiviação, provenientes de mata nativa
adjacentes a esta e na porção superior da encosta, fato que poderia justificar maior presença de
grupos decompositores e indicadores de qualidade do solo, como os Collembolas (Melo et al.,
2009).
Outro grupo com maior frequência relativa na área em restauração foi o Diplura, cujo
resultado também pode ser explicado pela proximidade com o açude, pois esses animais
normalmente habitam locais úmidos, se alimentando desde de micro-organismos do solo até
raízes de plantas e resíduos orgânicos, a depender da espécie (Baretta, 2011). Os dipluros são
organismos de estreita tolerância hídrica e térmica, com grandioso potencial de espécie
indicadora, por conta de sua sensibilidade às mudanças ambientais e pressões antropogênicas,
sendo necessário maiores estudos (Sendra et al., 2021).
As ordens Araneae e Protura foram amostradas em quantidades semelhantes para as
áreas do BPB e MN. Organismos pertencentes a ordem Araneae são ditos biocontroladores,
conhecidos por serem inimigos naturais de insetos pragas (Amorim, 2013). Os Proturos, se
alimentam de bactérias e de fungos, preferindo lugares úmidos e com muitas folhas eles não
apresentam grande importância para a biologia do solo e processos de decomposição de matéria
orgânica.
A presença de 12 grupos taxonômicos em comum as duas áreas, de um total de 20
amostrados, pode ser interpretada como certa similiraridade na complexidade dos ecossistemas,
características ambientais que possam favorecer a presença de riqueza faunísticas semelhantes.
50
Conforme descrito na Tabela 7, os valores do índice de diversidade de Shannon- Weaver
(H’) na área do BPB e da MN não diferem estatisticamente pelo Teste t de Hutcheson no nível
de 95% de probabilidade, constatando que não há diferenças em termos de diversidade para
fauna edáfica encontrada nas áreas estudadas, ou seja, as representações de ordens e
abundâncias são semelhantes.
Tabela 7. Total de Grupos Taxonômicos e Índice de diversidade Shannon-Weaver (H’) para a fauna edáfica das
áreas do Bosque de Pau – Brasil (BPB) e da Mata Nativa (MN) em São Lourenço da Mata – PE.
*Para H’ e D’ os valores seguidos da mesma letra na linha, não diferem entre si (α < 0,05) pelo Teste de t de
Hutcheson.
Outra maneira de visualização da frequência, unidamente com dominância, abundância
e constância dos indivíduos por grupo taxonômico podem ser visualizadas na Tabela 8 para a
área de BPB e Tabela 9 para a área de MN, com dados fornecidos pelo Programa ANAFAU.
Observou-se que para além das ordens de destaque citadas anteriormente, as ordens
Orthoptera e Acari como predominantes ou indicadoras nas duas áreas de estudo, devido seus
quantitativos foram classificadas como dominantes.
Camara et al. (2017) encontrou maiores quantitativos de Orthoptera em fragmentos de
florestas estacionais semideciduais com maior estágio sucessional comparado a áreas com
estágios inicias de sucessão, o que difere do encontrado nesse trabalho. A maior abundância e
frequência desses invertebrados, representados em total por grilos, na área do BPB em
comparação a área de MN pode estar relacionada a oferta de recursos em abundância, como a
biomassa foliar de Pau-Brasil, associado a possível escassez de predadores destes insetos
devido à baixa diversidade para a manutenção dos mesmos na área.
Áreas de estudos BPB MN
Grupos Taxonômicos 15 17
H’ 1,79a 1,88a
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Tabela 8. Caracterização da Fauna Edáfica amostrada na área do Plantio de Pau-Brasil (BPB) em São Lourenço
da Mata – PE, obtida através do Programa ANAFAU.
Grupo Taxonômico Ni Dom Ab Fq C
Hymenoptera* 300 SD sa SF W
Collembola* 230 SD sa SF W
Diptera* 127 SD sa SF W
Protura* 38 D ma MF W
Araneae* 31 D ma MF W
Orthoptera* 30 D ma MF W
Acari* 28 D ma MF W
Isopoda 17 D c F Y
Coleoptera 15 D c F W
Diplura 10 D c F W
Hemiptera 8 D c F W
Pseudoscorpiones 2 ND r PF Z
Annelida 2 ND r PF Z
Blattodea 1 ND r PF Z
Diplopoda 1 ND r PF Z
TOTAL 840
Número de Indivíduos (Ni). * espécies predominantes (indicadores). Dominância (Dom): SD – Superdominante;
D – Dominante; ND – Não Dominante. Abundância (Ab): r – raro; d – disperso; c – comum; a – abundante; ma -
muito abundante; sa - super abundante. Frequência (Fr): PF - pouco frequente; F – frequente; MF - muito frequente;
SF - super frequente. Constância (C): Z – acidental; Y – acessória; W – constante.
A ordem Acari se apresentou em proporções semelhantes para a área do BPB e da MN.
Os ácaros são um dos organismos mais abundantes da mesofauna do solo, encontrados em
praticamente todo ambiente terrestre, com hábito alimentar diverso, pode atuar no processo de
decomposição de matéria orgânica do solo (Berude et al., 2015).
A presença de Acari em áreas florestais pode ser justificada pelo aporte maior de
resíduos vegetais em diversos estágios de decomposição nessas áreas, sendo uma das principais
fontes alimentícias dos grupos dessa ordem (Baretta et al., 2011). Outro motivo pode ser a
presença de organismos da ordem Collembola, cujos Acaris são os principais predadores,
simultaneamente com aos Coleoptera e Araneae (Borges et al., 2016).
A presença do táxon Isopoda foi classificada como dominante, comum, frequente e de
constância acessória, o que significa uma presença de 25% a 50% do grupo nas coletas. Isopoda
é a ordem que se encontra o maior grupo de crustáceos verdadeiramente terrestres, vulgarmente
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conhecidos como tatuzinhos-de-jardim e encontrados em abundância nos ambientes e plantios
florestais, apresentando-se em maiores densidades nos locais mais úmidos, o que explica os
resultado de maior quantidades na área do BPB que se encontra mais próxima do corpo d’água.
Atuam na fragmentação de serrapilheira e no incremento da colonização microbiana o que
regula o processo de decomposição, além disso, devido sua capacidade de alta tolerância aos
metais pesado, mostra-se como organismo chave de monitoramento ambiental (Correia;
Aquino; Aguiar-Menezes, 2008).
As ordens Collembola, Isopoda e Diplopoda, por exemplo, por apresentar um modo de
vida sedentário, refletem a condição edáfica de um habitat melhor do que organismos com uma
alta capacidade de dispersão (Silva, J et al., 2012).
Já para a área da MN, houve registros da classe Amphibia, que inclui sapos, rãs e as
pererecas. Mesmo sendo classificados como não-dominantes, raro, pouco frequente e acidental
pelo programa faunístico neste trabalho, são organismos de estimada importância,
principalmente no controle de população de outros insetos (Santos et al., 2018).
Táxons registrados exclusivamente na MN pertencentes a Macrofauna, como Chilopoda
e Opiliones, mesmo de constância acidental (apresentando-se em menos de 25% das coletas),
representam uma parte fundamental das cadeias tróficas terrestres, os predadores,
alimentando-se de uma grande quantidade de outros artrópodes, este grupo está associado com
a estabilidade do sistema (Silva, J et al., 2012; Vicente et al., 2012). Importante ressaltar que a
presença de Chilopoda (centopeias) normalmente ocorre em áreas menos impactadas (Baretta,
2007).
O filo Annelida foi representado exclusivamente por minhocas presentes nas duas áreas
estudadas neste trabalho. Esse grupo pode ser considerado engenheiro de ecossistema, atua na
modificação da estrutura do solo através de sua movimentação, incorporando matéria orgânica
ao solo, além de estar intimamente associada a solos sem muita interferência antrópica (Baretta,
2011; Vicente et al., 2012).
A ordem Coleoptera, é uma das ordens com grande importância na fauna do solo, devido
os indivíduos ocorrentes neste ambiente apresentarem, em sua maioria, atividade
decompositora. Na presente pesquisa, foram encontrados poucos indivíduos desta ordem, nas
duas áreas, quando comparado a outros trabalhos desenvolvidos em ambientes florestais na
região (Rocha, 2021; Carnauba, 2020). Esse fato pode estar relacionado ao período de coleta
53
da presente pesquisa, já que esta ordem é geralmente encontrada com maior abundância nos
meses de temperaturas mais elevadas (Teixeira; Hoffmann; Silva-Filho, 2009).
Nas análises faunísticas observa-se que as ordens Collembola, Hymenoptera e Diptera
se mostraram predominantes nas áreas, sendo estas classificadas como super dominantes, super
abundantes, super frequentes e constantes, estando presentes em 50% ou mais das coletadas por
área.
Tabela 9. Caracterização da Fauna Edáfica amostrada na área da Mata Nativa (MN) em São Lourenço da Mata –
PE, obtida através do Programa ANAFAU.
Grupo Taxonômico Ni Dom Ab Fq C
Collembola* 182 SD sa SF W
Hymenoptera* 177 SD sa SF W
Diptera* 145 SD sa SF W
Protura* 44 D ma MF W
Araneae* 33 D ma MF W
Acari* 25 D ma MF W
Coleoptera 16 D c F W
Hemiptera 16 D c F W
Orthoptera 11 D c F W
Diplura 4 ND d PF Y
Isopoda 4 ND d PF Y
Amphibia 2 ND r PF Z
Annelida 2 ND r PF Z
Opiliones 2 ND r PF Z
Chilopoda 1 ND r PF Z
Psocodea 1 ND r PF Z
Squamata 1 ND r PF Z
TOTAL 666
Número de Indivíduos (Ni). * espécies predominantes (indicadores). Dominância (Dom): SD – Superdominante;
D – Dominante; ND – Não Dominante. Abundância (Ab): r – raro; d – disperso; c – comum; a – abundante; ma -
muito abundante; sa - super abundante. Frequência (Fr): PF - pouco frequente; F – frequente; MF - muito frequente;
SF - super frequente. Constância (C): Z – acidental; Y – acessória; W – constante.
As ordens Collembola e Hymenoptera, são ordens comuns de ocorrerem com destaque
na fauna do solo, dependendo da situação ambiental da área analisada, porém a ordem Díptera
não costuma ter esse destaque, já que é uma ordem com habito mais direcionado a captura com
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armadilhas de interceptação aérea. O destaque da ordem Diptera nas áreas estudadas e no tipo
de armadilha usada (pitfall), precisaria ser melhor explorada em estudos mais direcionados a
esta, afim de verificar a que grupo faunístico pertencem os indivíduos capturados e se estes
podem compor algum grupo de inseto-praga que poderia vir a entrar em estado de surto na área
e ocasionar danos. Lucero, Vieira, Vieira, (2020) foi um dos poucos trabalhos que observou a
ordem díptera com destaque em levantamentos de fauna do solo, porém estes autores reforçam
que esta ordem é caracterizada como temporária no solo e não apresenta funcionalidade
conhecida.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da análise dos dados levantados do indicador regeneração natural é possível
afirmar que a espécie Paubrasilia echinata vem influenciando negativamente em quesitos
estruturais e de diversidade vegetal na área de mata ciliar em processo de restauração da Estação
Ecológica do Tapacurá. Tal alteração é resultante da presença em proporções dominantes da
espécie do Pau-Brasil, favorecida desde sua implantação em modelo monocultural, em conjunto
com posterior abandono sem registro de serviços de restauração ativa.
Sobre o indicador fauna do solo, não houve diferenças significantes em termo de
diversidade entre as áreas estudadas. No entanto, a maior presença da ordem Orthoptera na área
com monocultivo, demonstra desequilíbrio que pode ser ocasionado pela menor presença de
predadores desses organismos na área, devido à baixa diversidade florística que os favorece.
Além disso, a presença da ordem Diptera em número de destaque em ambas as áreas deste
estudo, através da metodologia seguida, não era esperado, devendo ser melhor investigada em
sentido de possibilidade inclusive, destes insetos estarem causando danos a vegetação.
Portanto, são necessárias intervenções pontuais de manejo procurando melhorar o nível
de equilíbrio ambiental e favorecendo a formação de uma floresta viável, que preste serviços
ambientais de conservação e biodiversidade. Operações de manejo como a condução da
regeneração natural, semeadura direta de espécies-chaves de enriquecimento que contribuam
para o processo sucessional, visto que a ausência da estabilidade na comunidade compromete
a capacidade do ecossistema se recuperar das perturbações sofridas.
55
REFERÊNCIAS
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18, 2020.
ALBUQUERQUE, M. P. de.; MACHADO, A. M. B.; MACHADO, A. d.e. F.; VICTORIA, F.
de C.; MORSELLI, T. B. G. A. Fauna Edáfica em Sistema de Plantio Homogêneo, Sistema
Agroflorestal e em Mata Nativa em Dois Municípios do Rio Grande do Sul, Brasil. Biociências,
v. 17, n. 1, p. 59-66, 2009.
ALCÂNTARA, C. S. São Lourenço da Mata para além das quatro linhas. A cidade e a
história. Recife, 2013. Disponível em:
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Acesso em: 04 de agosto de 2023.
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TEIXEIRA, L. de J.. (2011). Regeneração Natural Avançada de Espécies Arbóreas Nativas no
Sub-Bosque de Povoamentos de Eucalyptus saligna Smith., na Zona da Mata Sul de
Pernambuco. Ciência Florestal, 21(2), 183–192.
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Tapacurá (São Lourenço da Mata, PE) baseada no relatório de Vasconcelos Sobrinho de
1976. Recife: [s.n], 61p. Disponível em: <
http://ww2.bc.ufrpe.br:8080/pergamumweb/vinculos/000046/000046a8.pdf;>. Acesso em: 04
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ALMEIDA, Débora & LIMA, Leandro & SANTOS, Paulo & PEZZOTI, Jeniffer & ROCHA,
Iara & DA SILVA, Anderson & RALPH, Lidiana & FELICIANO, Ana Lícia. (2020). Natural
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