Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia Do barro à cerâmica: proposta para intervenção arte-educacional em espaços não-formais Luiz Carlos de Melo Carpina – PE 2023 LUIZ CARLOS DE MELO Do barro à cerâmica: proposta para intervenção arte-educacional em espaços não-formais Monografia apresentada junto à Unidade de Educação a Distância e Tecnologia – EADTec/UFRPE como requisito parcial para conclusão do curso de Especialização em Artes e Tecnologia. Orientador(a): Felipe de Brito Lima Carpina – PE 2023 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal Rural de Pernambuco Sistema Integrado de Bibliotecas Gerada automaticamente, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) Melo, Carlos M528b Melo, Luiz Carlos Do barro a ceramica: proposta para intervenção arte-educacional em espaços não- formais / Luiz Carlos Melo. - 2023. 48 f. : il. Orientador: Felipe de Brito Lima. Inclui referências, apêndice(s) e anexo(s). Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Especialização em Artes e Tecnologia , Recife, 2023. 1. arte. 2. ceramica. 3. educação nao formal. I. Lima, Felipe de Brito, orient. II. Título CDD 700 FOLHA DE APROVAÇÃO Luiz Carlos de Melo Do barro à cerâmica: proposta para intervenção arte-educacional em espaços não-formais Monografia apresentada junto à Unidade de Educação a Distância e Tecnologia – EADTec/UFRPE como requisito parcial para conclusão do curso de Especialização em Artes e Tecnologia. Aprovada em __/__/____ (data da apresentação) Banca Examinadora: ______________________________________ Felipe de Brito Lima (UFRPE) Presidente e Orientador(a) ______________________________________ Amália Maria de Queiroz Rolim (UFRPE) Examinador(a) ______________________________________ Lilian Debora de Oliveira Barros (UFRPE) Examinador(a) DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família em especial ao meu pai, seu Luiz Serrote, que faleceu em 2022, consequência do covid-19, o qual seguiu a orientação do presidente da República do Brasil, o falso Messias Bolsonaro; aos professores da UFRPE e a todos os amigos que tanto me incentivaram para os estudos. AGRADECIMENTOS Agradeço à minha família, aos meus amigos pelo inestimável incentivo e por todo o apoio dado nas horas difíceis. Aos meus colegas de turma pela amizade, pelo apoio, companheirismo e por todas as aprendizagens vivenciadas nesta caminhada. Expresso também minha gratidão às instituições de ensino às quais fui vinculado ao longo de minha trajetória acadêmica, que contribuíram decisivamente para minha formação. A aos meus professores pelo apoio e cuidado ao longo desta caminhada, e pelos ricos momentos de aprendizagem proporcionados. Se não sabemos ver, é certamente porque a visibilidade não depende do objeto apenas, nem do sujeito que vê, mas também do trabalho de reflexão: cada visível guarda uma dobra invisível que é preciso desvendar a cada movimento (Novaes, 2005, p. 11) RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo desenvolver um plano de execução de uma oficina de modelagem de barro que visa estimular e incentivar manifestações artísticas junto ao público infantil em contexto educacional não formal localizado na zona canavieira do estado de Pernambuco. O referencial teórico contempla discussões sobre a importância do ensino da arte como processo de educação, o papel do arte-educador e educador social, bem como o uso de barro e cerâmica em manifestações artísticas. Os procedimentos metodológicos consistem na aplicação de reflexões teóricas e entrevistas com membros da comunidade local a fim de identificar necessidades educacionais a serem trabalhadas no plano de oficina desenvolvido. Os resultados compreendem reflexões sobre os relatos dos indivíduos e a proposição do plano de atividades a ser implementado no local, que poderá também embasar e ser adaptado para ações semelhantes realizadas em outros contextos, contribuindo com o trabalho de arte-educadores e com a formação de grupos minoritários para as artes e o desenvolvimento de uma consciência crítica. Palavras chave: Arte. Cerâmica. Educação não formal. ABSTRACT This research aims to develop an implementation plan for a clay modeling workshop designed to stimulate and encourage artistic expressions among children in a non-formal educational context located in the sugarcane region o the state of Pernambuco. The theoretical framework encompasses discussions on the importance of art education as an educational process, the role of art educators and social educators, as well as the use of clay and ceramics in artistic expressions. The methodological procedures involve the application of theoretical reflections and interviews with members of the local community to identify educational needs to be addressed in the developed workshop plan.The results include reflections on the individuals' testimonies and the proposal of a set of activities to be implemented on-site, which can also serve as a basis and be adapted for similar initiatives in other contexts, contributing to the work of art educators and the empowerment of minority groups in the arts, fostering critical awareness. Keywords: Art. Ceramics. Non-formal education. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 10 2 EDUCAÇÃO POPULAR E O ENSINO DAS ARTES VISUAIS 12 2.1 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E EDUCAÇÃO POPULAR 13 2.2 FUNDAMENTOS DA ARTE-EDUCAÇÃO 15 2.2.1 A abordagem triangular 15 2.2.2 Arte-educação em espaços formais e não formais 16 2.3 EDUCAÇÃO SOCIAL E ARTE-EDUAÇÃO 17 3 A POÉTICA CRIATIVA DA ARGILA 18 3.1 ORIGEM E PREPARO DA ARGILA 19 3.2 CERÂMICA 20 3.2 ARTISTAS E POSSIBILIDADES POÉTICAS 22 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 24 4.1 VILA DO DESTERRO: HISTÓRIA E CRIAÇÃO POPULAR 25 4.2 A SEDE DO CEEP 25 4.3 PARTICIPANTES 26 4.4 PROCEDIMENTOS 27 5 O PLANO DE INTERVENÇÃO DESENVOLVIDO 28 5.1 RELATOS DAS ENTREVISTAS 28 5.5 PROPOSTA DE OFICINA 31 5.5.1 Informações gerais 32 5.5.2 Objetivos 32 5.5.3 Proposta metodológica 32 5.5.4 Recursos e materiais didáticos a serem utilizados 33 5.5.5 Atividades e procedimentos 33 5.5.6 Proposta avaliativa 34 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 35 REFERÊNCIAS 36 APÊNDICE 37 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa busca promover a atividade do ensino da arte através da modelagem com a argila, considerando que a arte, por ter uma relação humanista na formação do cidadão, é essencial para construção de identidades permitindo que as pessoas expressem suas emoções e visões do mundo ao seu redor, contribuindo assim para a formação da sua identidade social e pessoal. A arte reflete sobre as culturas, e fortalece a conexão histórica com as raízes e promove a diversidade, é a empatia, ao permitir que as pessoas reflitam em diferentes perspectivas e pontos de vista. A arte desafia normas, incentiva questionamento e reflexão, fatores importantes para a formação de identidades. Em resumo, a arte enriquece as experiências humanas, contribuindo para formação das identidades individuais e coletivas. O ensino da arte desempenha um papel crucial em espaços de educação não formal, promove a expressão criativa, e desenvolve a consciência cidadã permitindo a comunicação de ideias complexas sobre as questões sociais. A prática artística desenvolve habilidades essenciais e empodera os indivíduos, capacitando-os como agentes de mudança. A arte amplia as percepções e combate o preconceito, promovendo a transformação pessoal e social, os espaços não formais de ensino oferecem oportunidades de aprendizado enriquecedor, inspira ações, e contribuem para uma sociedade justa e igualitária. O papel da arte na educação vai além de ensinar as cores primárias ou pintar dentro da linha: a arte é um campo cognitivo no qual, a partir de técnicas e estudos podemos aprender, criar e produzir ideias, permitindo uma maior descoberta, e a interação entre os saberes enraizadas pelo tempo, possibilitando a exteriorização da expressão do pensamento crítico e transformador. A experiência com argila não apenas despertou minha criatividade, mas também me conectou com tradições culturais e artísticas que moldaram minha perspectiva artística. Ao longo dos anos, continuei a explorar essa matéria prima versátil, que se tornou um símbolo da minha jornada artística e educacional. Ela me ensinou a valorizar a importância da expressão artística na compreensão da complexidade da vida e na construção de uma identidade rica e multifacetada. Ao descobrir a arte do barro ou argila, ainda criança, fiquei encantado com as possibilidades expressivas e plásticas dessa matéria prima, e foi quando tive o meu primeiro contato com a arte. Foi uma descoberta que contribuiu para a minha formação de artista e educador e me trouxe uma consciência crítica sobre a realidade e a construção de minha identidade cultural, social e humana. Ao analisar a situação enfrentada pelas crianças na Vila Desterro, comunidade localizada em Paudalho, Pernambuco, observei situações como evasão escolar, aumento do tráfico de drogas e a gravidez na adolescência, pouca fonte de renda, que me impactaram. Daí vem a necessidade da elaboração de um projeto de intervenção arte educacional. O objetivo deste projeto é desenvolver um plano de execução de uma proposta arte-educacional para espaços de não-formais de ensino, voltada para o estudo e ensino da expressão artística com ênfase na modelagem com o barro e a sua transformação em cerâmica. Busca-se disponibilizar um conjunto de diretrizes que viabilizem a realização de oficinas em contextos não formais de modo estimular as potencialidades criativas e críticas de crianças e adolescentes, criando um espaço para a reflexão sobre a realidade social e econômica em que vivem, capacitando-os a enfrentar desafios com resiliência e imaginação. 2 EDUCAÇÃO POPULAR E O ENSINO DAS ARTES VISUAIS A educação sempre desempenhou um papel fundamental na formação das sociedades, influenciando não apenas o desenvolvimento intelectual, mas também a construção da identidade e da cidadania. No entanto, ao longo do tempo, muitos sistemas educacionais adotaram abordagens tradicionais, que, de certa forma perpetuam as desigualdades e limitam o acesso ao conhecimento no que se refere a criança: Para Read, a educação tem como objetivo “descobrir o tipo psicológico da criança e permitir a cada tipo sua linha natural de desenvolvimento, sua forma natural de integração. Esse é o significado real de liberdade em educação” (Read, 1986, p. 17). Demerval Saviani ressalta em seu livro "Escola e Democracia", polêmicas do nosso tempo, editora Autores Associados, edição de 1983, que muitas vezes a educação refletiu uma visão reprodutivista, reproduzindo estruturas sociais existentes e mantendo um modelo de ensino tradicional que não favorece a participação democrática e o desenvolvimento pleno dos indivíduos. Este ensaio explora a ideia de educação popular em artes visuais como um contraponto a essa abordagem reprodutivista, buscando promover a inclusão, a criatividade e a expressão pessoal nas artes visuais, enquanto fortalece os princípios da educação democrática. Paulo Freire no livro “Pedagogia do oprimido” de 1974, editora Paz e terra S.A, aborda a importância da educação popular como ferramenta de libertação dos oprimidos, destacando a necessidade de uma pedagogia que promova a conscientização e transformação social das pessoas. Ele critica o modelo tradicional de ensino e propõe um diálogo horizontal entre educadores e educandos, visando a construção de um conhecimento crítico e emancipador, e a liberdade do povo, um ideal que possa atender a perspectiva do oprimido e não do opressor. No âmbito da pedagogia freireana emerge uma distinção fundamental entre dois paradigmas educacionais: a educação popular e a educação bancária ou tradicional. Paulo Freire, em suas obras, mais notavelmente “Pedagogia do oprimido” delineou esses dois modelos antagônicos que moldam a maneira como a educação é concebida e praticada. A Educação bancária tradicional representa um modelo de ensino no qual o conhecimento é transferido de maneira unidirecional do educador para o educando, como um depósito de informações. Nesse contexto, os estudantes são percebidos como “recipientes vazios” a serem preenchidos, e a educação é frequentemente usada como um instrumento de reprodução das estruturas sociais existentes. Em contraste, a educação popular proposta por Freire é um processo de diálogo, conscientização e empoderamento. Ela reconhece que os alunos têm conhecimentos prévios, experiências e identidades que devem ser valorizados e incorporados ao processo educativo. A educação popular busca a emancipação dos educandos, incentivando a reflexão crítica sobre a realidade e capacitando- os a agir de maneira autônoma e transformadora. Neste contexto, esta pesquisa mostra como a arte, especificamente a modelagem com argila, pode se alinhar com os princípios da educação popular, estimulando a participação ativa das crianças na construção de suas identidades culturais e na conscientização social. Paulo Freire com a sua pedagogia, busca ajudar as pessoas a mudarem à maneira de pensar e agir, passando da aceitação passiva das injustiças (consciência ingênua) para uma compreensão crítica das opressões (consciência crítica). Isso é baseado em uma análise lógica das razões por trás da opressão promovida por meio de diálogo, reflexão e ação transformadora. As fundamentações lógicas do oprimido referem-se a este processo de desenvolver uma compreensão crítica e fundamentadas nas injustiças sociais e das estruturas sociais que as mantém. 2.1 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E EDUCAÇÃO POPULAR Existem diversas formas de educação e cada uma desempenha um papel importante na formação dos indivíduos e na sociedade como um todo. Segundo Gohn (2006, p. 28), quando se fala em educação não formal, é quase impossível não a comparar com a educação formal. A autora faz uma distinção entre as três modalidades, demarcando seus campos de atuação: A educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdo previamente demarcados; a informal como aquela que os indivíduos aprendem durante seu processo de socialização - na família, bairro, clube, amigos, etc., carregada de valores e cultura própria, de pertencimento e sentimentos herdados; e a educação não formal é aquela que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivas cotidianas. A educação formal é a forma estruturada e organizada, que ocorro nas instituições de ensino como escolas e universidades. Já a Educação informal ocorre de maneira não estruturada e não planejada, pode ocorrer de conversas informais, observando e interagindo entre os indivíduos é um tipo de aprendizado contínuo que não segue um currículo formal. Por fim, a Educação não Formal fica situada entre a educação formal e informal, ela é organizada e estruturada, mas não segue o mesmo formato das instituições tradicionais, ela é projetada para atender as necessidades especificas de grupos ou comunidades. Um dos supostos básicos da educação não-formal é o de que aprendizagem se dá por meio da prática social. É a experiência das pessoas em trabalhos coletivos que gera o aprendizado. (...) educação não-formal tem sempre um caráter coletivo, passa por um processo de ação grupal, é vivida como práxis concreta de um grupo, ainda que o resultado do que se aprende seja absorvido individualmente (Gohn, 1999, p. 103, 104). A educação popular é uma abordagem educacional que se baseia na participação ativa das pessoas na construção do conhecimento e na busca de soluções para problemas sociais. Ela se concentra em capacitar grupos marginalizados ou comunidades desfavorecidas, muitas vezes utilizando métodos não tradicionais de ensino. A educação popular e as artes visuais são campos interconectados que têm desempenhando um papel importante na promoção da conscientização, expressão cultural e engajamento cívico em diversas comunidades em todo o mundo. Nesse contexto, as artes visuais desempenham um papel fundamental. Elas podem ser utilizadas como uma ferramenta poderosa para engajar as pessoas na educação popular, permitindo que expressem suas experiências, ideias e perspectivas por meio de imagens e formas visuais. E isso pode incluir a criação de pinturas, desenhos, fotografias, murais e outras formas de expressão visual. As artes visuais na educação popular podem ser usadas para promover a conscientização, incentivar a expressão criativa, facilitar a comunicação e estimular o diálogo. 2.2 FUNDAMENTOS DA ARTE-EDUCAÇÃO A arte-educação pretende utilizar a arte no processo de formação humana para dar sentido ao sentir e à percepção de mundo do ser, utilizando-se das emoções e referências simbólicas (cultura, memória, criatividade) do indivíduo. Os escritos de Ana Mae Barbosa enfatizam a importância da presença das artes na educação para trabalhar construção e cognição, visto que em arte, opera-se com todos os processos da atividade de conhecer, não só com os níveis racionais, mas com os afetivos e emocionais. No seu livro Arte e educação no Brasil, Barbosa (2005) faz notar que inúmeros estudos têm apontado o contributo da Arte/Educação ao desenvolvimento cognitivo, afirmando a eficiência da arte para desenvolver formas substituir o ato de pensar, diferenciar, comparar, generalizar, interpretar, conceber possibilidades, construir, formular hipóteses, e decifrar metáforas. 2.2.1 A abordagem triangular A abordagem triangular é uma abordagem contemporânea à Arte- Educação que continua relevante no presente. Ela se baseia em três pontos, cada um com objetivos específicos. A primeira dimensão da abordagem triangular busca contextualizar a produção artística no contexto histórico e cultural. Com isso, pretende-se promover o entendimento das obras de arte como produtos de seu tempo, bem como a apreciação das diferentes linguagens artísticas ao longo da história. Isso ajuda os alunos a compreenderem a evolução das formas de expressão artística e a se relacionarem com a herança cultural. A segunda dimensão concentra-se na prática artística em si, encorajando os estudantes a se envolverem na criação artística. Através do fazer artístico, os alunos desenvolvem habilidades técnicas, experimentam diferentes mídias e linguagens artísticas e expressam suas próprias ideias e emoções por meio da criação de obras de arte. Essa dimensão visa promover a auto expressão e a criatividade dos alunos. A terceira dimensão da abordagem triangular é a estética, que envolve a análise crítica das obras de arte. Os alunos aprendem a apreciar a beleza, a simbologia e os aspectos formais das obras, bem como a desenvolver habilidades de análise e interpretação. Isso ajuda a aprofundar a compreensão das obras de arte e a estimular o pensamento crítico. Em conjunto, essas três dimensões da abordagem buscam enriquecer a experiência do ensino da Arte-Educação, proporcionando aos alunos um entendimento abrangente e significativo do ensino das artes visuais. Essa abordagem dialoga muito bem com esta pesquisa, pois ao promover a atividade de modelagem com argila, a criança terá a oportunidade de conhecer e experimentar na prática, em um ambiente de ensino não formal, as obras de artistas consagrados, ceramistas, artesãos e artistas plásticos, e a partir daí, aprender a ler, contextualizar e criar suas próprias obras. Podemos ampliar e compreender melhor essa abordagem, traçando uma relação com o espaço não formal de ensino, quando Machado nos afirma que a abordagem triangular não é adequada para aqueles que desejam seguir um método padronizado; ela demanda a liberdade de adquirir conhecimento crítico e reflexivo no processo de ensino, ajustando-se ao contexto em que se encontra (2010). 2.2.2 Arte-educação em espaços formais e não formais Dentro do seu projeto Arte nas Escolas, Ana Mae destaca a importância da imagem no ensino da Arte, nas escolas e nos espaços não formais de educação, e que isso pode contribuir de forma significativa na formação de um aluno conhecedor, fruidor e decodificador da obra de arte. Este estudante poderá apreciar a leitura da imagem servindo como elemento fundamental do seu desenvolvimento, alfabetização e aprendizado, dividindo esse aprendizado em dois momentos: o da alfabetização como conquista de uma técnica, e o da adolescência, como a necessidade de conquista do equilíbrio emocional. Objetivos diferentes são trabalhados neste processo: o domínio cognitivo ou intelectual, e o domínio afetivo. Na pós-modernidade o conceito de arte está ligado à cognição, à construção e ao conceito de pensamento visual a partir da imagem. Quando observamos que as instituições educacionais ignoram e segregam as culturas de classes sociais baixas e privilegiam a cultura erudita, aprendemos com o professor Paulo Freire a rejeitar essa segregação e isso se destaca no seu livro pedagogia do oprimido (1974). Quando o indivíduo conhece a arte produzida na sua cultura, no seu meio, essa educação pode ser muito importante para ele se reconhecer como parte integrante de sua história, social e cultural, o deixando em condições de agir e modificar o futuro e o presente, e mais cientes de suas ideias, podendo atuar no mundo de forma crítica, e coerente, praticando ações que podem transformar pra melhor a realidade ao seu redor. Segundo Ana Mae Barbosa, a arte não pode ser concebida e ensinada apenas como eventos comemorativos e festivos seguindo a tradição positivista ou só como livre expressão. Devemos introduzir um ensino da arte onde o aluno possa ter a capacidade da experimentação, da decodificação e interpretação da obra, fazendo uma interseção de conhecimentos, deixando os alunos aptos e capazes de ler, interpretar e a produzir imagens. 2.3 EDUCAÇÃO SOCIAL E ARTE-EDUAÇÃO Um educador social é um profissional que atua na interface entre a educação, o desenvolvimento social e a promoção do bem-estar. Sua principal função é trabalhar com indivíduos ou grupos que enfrentam desafios sociais, econômicos, emocionais ou culturais, ajudando-os a superar obstáculos, adquirir habilidades e participar ativamente na sociedade. Os educadores sociais desempenham um papel crucial na promoção da inclusão social, ajudando indivíduos e comunidades a superar barreiras e desigualdades. Eles trabalham em uma variedade de contextos, desde escolas até instituições de assistência social, e adaptam suas abordagens de acordo com as necessidades específicas de cada grupo. Além disso, estão comprometidos com a defesa dos direitos das pessoas atendidas e com a promoção de uma sociedade mais justa e igualitária. Sua atuação abrange desde o desenvolvimento de habilidades práticas até o apoio emocional, visando ao fortalecimento do bem-estar e da autonomia dos indivíduos e comunidades com as quais trabalham. A perspectiva freiriana do educador social, inspirada nas ideias de Paulo Freire, enfoca a conscientização, o diálogo crítico e a transformação social. O educador social freiriano busca capacitar as pessoas para que compreendam criticamente sua realidade, participem ativamente do processo de aprendizado e se tornem agentes de mudança social. Essa abordagem valoriza a contextualização, a alfabetização crítica e o engajamento político e social, visando à libertação das pessoas da opressão e à construção de uma sociedade mais justa. O educador social desempenha um papel vital no ensino das artes, facilitando a expressão criativa, promovendo o pensamento crítico, estimulando a autonomia e inclusão, conectando a arte a questões sociais, promovendo o diálogo e a colaboração, desenvolvendo habilidades, fornecendo feedback construtivo e inspirando o entusiasmo pela arte. Seu objetivo é criar um ambiente propício para que os participantes explorem, expressem e apreciem a arte, enriquecendo suas vidas por meio da educação e da criatividade. 3 A POÉTICA CRIATIVA DA ARGILA Modelar a argila é mexer com a criatividade, exteriorizar valores, resgatar sentimentos, adicionando saberes e ancestralidade com o resgate de memória. O barro é um elemento de fácil manipulação, lúdico, estético, criativo, divertido que nas mãos das crianças pode gerar experiências de conhecimento da realidade e consciência transformadora. A argila é um material natural, dinâmico, e muito expressivo, de fácil aceso em nossa região. Pode ser encontrado em muitos municípios da região da zona da mata norte de Pernambuco. 3.1 ORIGEM E PREPARO DA ARGILA A argila é um material natural composto principalmente por partículas minerais finamente divididas, resultante da decomposição de rochas e minerais. Sua composição principal é de minerais de silicato, como caulinita, ilita e montmorilonita. A palavra "argila" tem origem no termo latino "argila", que significa "terra macia" ou "terra de modelar", refletindo sua característica de ser facilmente moldável quando misturada com água. A argila é amplamente utilizada em diversas aplicações, incluindo cerâmica, construção civil, cosméticos, agricultura e artesanato, devido às suas propriedades de plasticidade, coesão e capacidade de retenção de água. Os registros mais antigos do uso da argila remontam a civilizações antigas que datam mais de 10 mil anos atrás, alguns dos primeiros registros incluem civilizações mesopotâmicas, egípcia, chinesa, grega e romana. Na ótica da Química, a argila pode ser descrita como um material de ocorrência natural composto principalmente de minerais de baixa granulometria, que apresenta plasticidade em teores de água apropriados. Embora as argilas geralmente contenham 16 filossilicatos, podem conter outros materiais que proporcionem plasticidade e endureçam quando secos ou queimados. Fases associadas na argila podem incluir materiais que não apresentem plasticidade e matéria orgânica (Guggenhein & Martin, 1995 Apud. Guerra, 2006, p. 5-6). Em diversas regiões ao redor do globo, o solo apresenta uma composição que inclui argila, juntamente com outros elementos como areia, pedras e húmus. Os artesãos especializados em cerâmica frequentemente buscam jazidas de argila, locais onde são extraídos materiais como pedra, areia e argila, pois são considerados lugares onde a argila pode ser encontrada de forma mais pura, sem misturas. A argila exibe uma variedade de tonalidades, tais como branca, cinza, ocre, vermelha e preta. Raramente é utilizada pura pelos ceramistas, devido ao seu alto índice de contração durante a secagem, o que pode resultar em rachaduras. Por essa razão, eles preparam uma composição cerâmica, combinando argila pura com outras substâncias que facilitam o processo de modelagem, conferindo maior resistência ao material e proporcionando uma textura mais ou menos áspera. A formulação da pasta cerâmica também desempenha um papel crucial na textura final da peça produzida. A argila é frequentemente misturada com um desengordurante para reduzir sua aderência quando úmida e minimizar sua fragilidade quando seca. Além disso, a "chamota" refere-se a uma porção de argila que já passou pelo processo de cozimento e foi triturada. O barro exige um manuseio, uma certa caricia antes da utilização. De temperamento forte o barro precisa ter uma organização de suas moléculas, eliminação da água e das bolhas, um critério todo particular de secagem conforme o trabalho a ser realizado sem contar o mistério da queima que depende de todo o preparo anterior de posicionamento no forno e temperatura. Diante de todo esse método, tem seus momentos de flexibilidade e mesmo depois do trabalho pronto este pode ainda estar frágil e delicado a junção das placas de tamanho razoavelmente pequeno diante do todo, formam então um corpo grande e articulável (Vieira, 2006, p. 36). Quanto maior a maleabilidade da argila, mais facilitado torna-se o processo de moldagem e conformação dos produtos cerâmicos. Por outro lado, caso a argila tenha uma excessiva maleabilidade, isso pode complicar a fase de secagem, resultando em fissuras nas peças (Souza Santos, 1989). 3.2 CERÂMICA A cerâmica é uma forma de arte e técnica de produção que envolve o manuseio de argila, geralmente modelando-a e, em seguida submetendo a altas temperaturas em um forno para endurecer. Ela abrange uma gama de objetos e trabalhos artísticos, desde vasos e utensílios, até esculturas e peças decorativas. A cerâmica é uma das formas de arte mais antigas da humanidade e tem uma rica tradição cultural em todo o mundo. A história da cerâmica não pode ser datada, apenas pode supor-se que ao perceber-se que a terra próxima à fogueira endurecia, tenha-se começado um processo de experimentação de modelagem ou moldagem de objetos de argila e possivelmente tenha sido realizado pelas mulheres, por ser um processo doméstico (Schmitt & Avello, 2013, p. 498). A técnica da cerâmica envolve o processo de preparação e moldagem, secagem, decoração, se desejado, e cozimento em forno. O forno é usado para cozinhar a argila em altas temperaturas, transformando-a em cerâmica sólida e durável. Dependendo do tipo de argila, da temperatura de cozimento e das técnicas de decoração, a cerâmica pode ter uma ampla variedade de cores, texturas e acabamentos. A cerâmica desempenha um papel importante na cultura humana, seja como uma forma de expressão artística, uma técnica de produção de objetos utilitários ou como parte de tradições culturais e rituais. Ela tem sido usada em diversas civilizações ao longo da história para criar peças funcionais e obras de arte, refletindo a criatividade e a destreza dos artistas ceramistas. Figura 01 - Atobás, de Tiago Amorim Fonte: artista Tiago Amorim Figura 02 - Pinha, Cerâmica Policromada de Tiago Amorim Fonte: fotografia de Fernando da Hora Figura 03 - Parque das esculturas, Centro do Recife Fonte: fotografia de Inaldo Lins/Prefeitura do Recife Figura 04 - Salão das esculturas Fonte: fotografia de Roberta Rêgo/G1 3.3 ARTISTAS E POSSIBILIDADES POÉTICAS Os mestres desempenham um papel fundamental na criação artística popular e na educação popular. Eles são os guardiões do conhecimento tradicional, transmitindo técnicas, narrativas e valores culturais de geração em geração. Além disso, mestres inspiram e capacitam artistas e aprendizes, estimulando a expressão criativa e a conexão com a cultura. Essa dimensão educativa dos mestres está intrinsecamente ligada às questões políticas e sociais que Paulo Freire defendia, como a emancipação e a conscientização através da educação. Eles têm o poder de capacitar as comunidades, promovendo a autoestima, a identidade cultural e a resistência contra desigualdades sistêmicas, em linha com os princípios de Paulo Freire. Além disso, seu papel é crucial no contexto do neocolonialismo, como defendido por Ana Mae Barbosa, uma vez que ajudam a preservar e revitalizar as tradições culturais, combatendo assim a imposição de modelos culturais estrangeiros e promovendo a diversidade cultural e a autonomia. Portanto, os mestres desempenham um papel essencial na conexão entre arte, educação popular, política e movimentos neocoloniais, fortalecendo as identidades culturais e impulsionando a transformação social. Trago como referência e influência um importante artista que tive o prazer de conviver e estudar no seu atelier em Olinda: o mestre Tiago Amorim, pernambucano, artista plástico, conhecido por suas esculturas em cerâmica. É também pintor e desenhista, nasceu em Limoeiro, mas se criou mesmo em Olinda. Convivi com ele por 2 anos na época em que morava e tinha um grande atelier de cerâmica em Tracunhaém Em suas criações, o mestre mistura elementos da arte popular a figuras da natureza, sempre com formas e traços elegantes. O universo artesanal de Tiago Amorim é composto por pássaros, mulheres e peixes, todos eles moldados em cerâmica, em três tipos: esmaltados, queimados e crus. Tiago Amorim é um artista que me traz muita inspiração com sua arte, pelo seu olhar à natureza e sua força de expressão com a argila. Outro artista com quem tive uma forte convivência e aprendizado foi o Mestre Nilson Santeiro. Com ele, aprendi técnicas de construção e acabamentos impecáveis com os santos que ele fazia no atelier do mestre Zezinho de Tracunhaém. Mestre Nilson, nascido no município de Goiana, no dia 2 de fevereiro de 1950, e com quase 60 anos dedicados ao ofício, trabalha com o barro desde os 10 anos de idade. Ele foi contemporâneo de D. Lídia Vieira, uma tradicional e consagrada artesã em Tracunhaém, que aos 11 anos já tinha elaborado a primeira escultura: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Utiliza o barro branco de Cupiçura (PB), matéria prima para os seus santos de textura lisa, traços delicados e acabamento elegante. O ceramista José Joaquim da Silva, o Zezinho de Tracunhaém, fez da arte santeira a sua expressão maior, tornando-se um dos mais importantes artistas populares do Brasil, fonte de inspiração e mestre de dezenas de artesãos. Tem sua obra escultórica encontrada em acervos de igrejas, museus e coleções particulares, como o Museu de Arte Contemporânea (PE), Museu Casa do Pontal (RJ) e Palácio do Planalto. Nasceu no dia 5 de julho de 1939, no município de Vitória de Santo Antão. De família humilde, foi criado no corte da cana-de-açúcar e até os 21 anos de idade esse foi seu meio de sobrevivência. Na terra do artesanato do barro, mestre Zezinho se inicia na arte santeira, expressando através do artesanato figurativo a sua fé religiosa. Sua escultura em que Nossa Senhora aparece grávida ao lado de São José, destaque na 1ª Bienal do Artesanato de Pernambuco (1986), projetou o nome do artista, que ao longo dos anos teve como admirador e incentivador Abelardo Rodrigues (1908-1971), especialista e um dos maiores colecionadores de arte sacra do Brasil. Esses artistas contribuíram e influenciaram fortemente minha formação de artesão desde a descoberta de técnicas e modelagens até o preparo e o ponto de trabalho, além do conhecimentos físico-químicos das argilas até conceitos filosóficos de criação e concepção da arte de modelar. 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este capítulo aborda os aspectos metodológicos da pesquisa, com destaque ao contexto e a vivencia cultural local, ao qual a oficina foi pensada, os participantes devem a exercer um papel pro ativo, e com consciência da realidade ao seu redor. 4.1 VILA DO DESTERRO: UMA BREVE HISTÓRIA No século XVII, foi estabelecido um engenho conhecido como Engenho Aldeia, localizado em um aldeamento indígena a 10 km do Rio Capibaribe, nas terras originais da aldeia. Com o desenvolvimento da localidade, o nome foi alterado para Paud’alho e, posteriormente, para Paudalho, derivado de uma árvore com aroma de alho nas margens do Rio Capibaribe. O distrito foi criado sob a designação de Paudalho em 1789, confirmado por Alvará em 22-06-1804, assim como pelas Leis Municipais n.º 1, de 05-12-1892, e n.º 234, de 23-11- 1929, ficando subordinado ao município de Olinda. Em 04-02-1879, foi elevado à categoria de cidade com o nome de Paudalho pela Lei Provincial n.º 1.318. Desterro é uma localidade que surgiu nas proximidades dos canaviais e das terras pertencentes à Usina Petribú, uma indústria de produção de cana-de- açúcar na região da Mata Norte de Pernambuco, além das fábricas de cerâmica de tijolos, que há muitos anos empregam e exploram os habitantes desta comunidade. Esta comunidade caracteriza-se pelo estilo de vida simples, típico dos habitantes da zona rural, onde muitos ainda se dedicam ao corte da cana e ao trabalho nas fábricas de tijolos locais. A vila conta com uma pequena igreja e celebra anualmente a sua tradicional festa de Nossa Senhora do Desterro, que chega à sua 73ª edição. É um lugar tranquilo habitado por pessoas de vida simples. 4.2 A SEDE DO CEEP O CEEP é uma instituição educacional, que trabalha com crianças em situação de vulnerabilidade social, é um espaço não formal de ensino que trabalho a educação popular e o Ensino da Arte como meios de formar e despertar uma consciência crítica criativa do cidadão, ele tem seus fundamentos inspirados na metodologia de alfabetização do professor Paulo freire e do MAC – Movimento de adolescente e criança com o VER – JULGAR e AGIR entre ouras, por acreditar que isso contribuem para que as crianças, brinquem, cresçam e pensem sobre as coisas ao seu redor, julguem à luz de princípios e organizem suas ações para enfrentar essa realidade. O Projeto do CEEP tem como objetivo geral a formação para a cidadania. Baseada nos pilares da Participação, da Autonomia e da Democracia. Para operacionalizarmos este objetivo, optamos pelos programas de Arte-educação. Os objetivos específicos, são, portanto, a Organização de Oficinas, solicitadas pelas crianças. Cada uma se inscreve dizendo o que deseja. Na oficina de cerâmica, o aluno traz suas experiencias culturais e conhecem as técnicas e o processo criativo do manuseio com o barro, além das “aulas de fabricação de e pratica do jogo de xadrez”; confecção do tabuleiro; e criações diversas, Filmes apresentando obras de grandes mestres além de conversas sobre o “fazer e criar” na arte; criação de efeitos nas artes visuais; introdução ao origami; composição e simetria etc. 4.3 PARTICIPANTES Participaram deste trabalho como informantes 6 (seis) sujeitos com residência e/ou atuação profissional no loco de interesse da ação, com idades entre 25 e 88 anos e ocupações conforme informado na Tabela 1. O convite para participação se deu devido à vivência dos indivíduos no local, sua participação e engajamento prévio nas atividades, bem como suas áreas de atuação profissional, que indicam um elevado potencial para contribuir com a concepção de projetos e atividades como o pretendido por este trabalho. Tabela 1 – Participantes PARTICIPANTE GÊNERO IDADE OCUPAÇÃO M. C. L. F 88 Assistente social R. S. M 54 (não informada) M. B. M. F 63 Costureira Y. A. S. M 34 Arte-educador J. E. L. S. M 24 Produtor cultural J. E. B. S. M 25 Estudante Fonte: elaboração do autor 4.4 PROCEDIMENTOS Os procedimentos adotados neste trabalho envolveram essencialmente três atividades realizadas em fases distintas da pesquisa. A primeira, a pesquisa bibliográfica com análise de teorias e técnicas apresentadas nos capítulos anteriores. Estas leituras fundamentaram a proposta de intervenção a ser desenvolvida. A segunda, a pesquisa de campo, que contou com a realização de entrevistas feitas e estruturadas com moradores da comunidade. Os relatos dos participantes também fundamentaram a proposição da oficina, com intuito de contemplar as necessidades pedagógicas das crianças e dos moradores do lugar. A terceira fase foi a discursão sobre as reflexões identificadas nas leituras e informações obtidas nas entrevistas sobre a execução e elaboração da oficina. Os dados obtidos com as entrevistas e o detalhamento da oficina proposta são apresentados no próximo capítulo. 5 O PLANO DE INTERVENÇÃO DESENVOLVIDO Neste capítulo são apresentados os relatos das entrevistas descritas no capítulo anterior, e também a descrição do plano de intervenção de oficina desenvolvido a partir do referencial teórico e destas entrevistas, conforme descrito também no capítulo anterior. 5.1 RELATOS DAS ENTREVISTAS A participante M. C. L afirmou que “Nas oficinas o educador vai progressivamente orientando-os até o momento de entregar-lhe uma porção de barro e deixar que se expresse livremente”. E pontuou ainda que “A medida em que o educador estimula orienta, recomece o esforço e o resultado do trabalho elas, aí começam a adquirir confiança”. Podemos observar nesta fala, dois importantes aspectos para a realização e relevância de uma proposta de oficina: a maneira como ela ver a postura do orientador, onde de forma paciente e progressiva ele apresenta para criança o material de trabalho e de criação para a construção das ideias. O outro é o respeito em relação a forma dela se expressar, a “livre expressão” deixando a criança solta para brincar e inventar, onde ela faz contato com o barro e aos poucos vai entendendo como funciona o processo e a dinâmica da criação. Assim destaco um fala que mostra a importância e a presença do educador social como elemento fundamental para a construção do processo de ensino aprendizagem, além do aspecto pedagógico do método da livre expressão muito utilizado na educação e no ensino das artes. Outro aspecto importante é quando ela fala sobre a necessidade da replicação desta oficina para as crianças e para a comunidade dizendo que “Amplia seu horizonte intelectual contribuindo para construção de sua humanidade”. Assim como desejava o mestre Paulo Freire. realizar uma prática de educação onde pudéssemos recuperar a humanidade perdida nas pessoas, e esta fala se encaixa muito bem com intenção e o objetivo deste trabalho. R. S. E. fez um comentário muito contundente sobre a importância da realização desta oficina para comunidade e para as crianças, ao afirmar que “A realização desta oficina de cerâmica, é de suma importância para nossa vila, diante da demando de crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social nesta comunidade”. Nesta fala ele destaca importância da realização desta oficina, como forma de contribuir e aliviar a situação de vulnerabilidade social diante da demanda de tantas crianças com urgência de acolhimento e educação. M. J. B. M. faz uma reflexão sobre a importância do barro como elemento modelador e transformador de ideias e criação lúdica, uma oportunidade de unir a argila ao processo de ensino aprendizagem: “A oficina de cerâmica é importante por apresentar um processo de educação através da modelagem, trabalhando com atividades lúdicas.”. Já Y. A. S. chama a atenção para o lado positivo e as vantagens da realização da oficina: “A Oficinas de cerâmica para crianças pode ser uma atividade muito positiva. Ela oferece várias vantagens: Criatividade, Habilidades motoras, Paciência e concentração, e aprendizado histórico cultural”. Esta fala é particularmente pertinente ao colocar a oficina como ponto positivo e destacar as vantagens oferecidas por essa ação pedagógica, provocando o estimulo a criatividade e o desenvolvimento das habilidades motoras além da concentração e aprendizados históricos, onde esses aspectos serão abordados e trabalhados a partir da realidade socio cultural dessas crianças. Ele também nos mostra que a realização dessa oficina preenche outras necessidades: “Ajuda a criança a sair da estagnação mental e social, são crianças que em muitos dos casos tem carências múltiplas, e são filhos e filhas de mãe solo”. O depoimento de J. E. L. S. tem um caráter diferenciado considerando que o mesmo participou uma oficina semelhante no passado: “Ter participado das oficinas de Cerâmica teve um peso muito grande e significativo para a minha formação e para o meu crescimento pessoal. A partir da manipulação do barro eu buscava manipular também a minha realidade”. Esse é um ponto muito importante para a construção da formação e da cidadania, de uma criança quando ele se sente agente transformador de sua realidade. Sobre necessidade da oficina para ele e a comunidade sua fala destaca que “as oficinas de Cerâmica em muito contribuem para a criação de conhecimento e de outras realidades pensadas e executadas à partir do barro”. Aqui percebemos a relevância e contribuição do trabalho para o processo de criação, descoberta e conhecimento que o barro proporciona como atividade criadora. J. E. B. S., que também foi vivenciou uma oficina, nos relata sentir a verdadeira realidade do ser humano quando trabalha com a modelagem do barro: “Foi através dessa oficina que muitas crianças/ inclusive minha pessoa pode sentir de verdade a realidade dos seres humanos que trabalham com artesanato feito a barro”. Essa afirmação aponta para relevância do barro como matéria para o despertar de uma consciência crítica, de racionalização e transformação da realidade ao redor. Sobre a importância da oficina, ele pontua que “à oficina de barro é importante para a comunidade no todo por trazer uma experiência única onde o público não tem tanto conhecimento em si de algo tão valioso”. Em sua fala ele nos mostra a importância da oficina como uma experiencia única e valiosa para sua formação. M. C. L faz uma reflexão que dialoga muito com o pensamento de Paulo Freire sobre educação popular e a realização dessa oficina. O relato desta entrevistada se fundamenta na teoria do método de Paulo Freire, que destaca a importância de alfabetizar contextualizando e levando-se em consideração a realidade social e cultural das pessoas. Em sua fala, ela afirma que Paudalho é um dos maiores produtores de tijolos da região, e tem o barro como matéria prima: “É que o barro material didático da oficina não é estranho às crianças. Porem tudo que se pode fazer com ele sim, é um limite para elas. Sabem da fabricação de tijolos telhas, caras e até alguns utensílios domésticos, desconhecem em que é ´possível ultrapassar esse limite.“. Assim fica claro que esse tipo de oficina fará com que eles se conscientizem de suas potencialidades criativas e ultrapassem os limites impostos pela realidade que o cerca, indo mais além. Paulo Freire aborda a importância da educação popular como ferramenta de libertação dos oprimidos, destacando a necessidade de uma pedagogia que promova a conscientização e transformação social das pessoas. Nesse sentido, a fala de M.C.L. descreve a importância do educador social e sua forma de ensinar: “Aos poucos o educador conversa sobre os trabalhos feitos de barro apresenta fotos e planeja visitas a outros ateliers, o grupo vai aumentando seu interesse, nesses contatos ele vai introduzindo um novo vocabulário ao grupo.”. Cabe ao educador social estimular e incentivar a criança para leitura e consciência das informações ao redor, como destaca Paulo Freire. Y. A. S. também traz uma reflexão que dialoga muito com o processo de educação popular e a formação cognitiva da criança: “o CEEP tem em seu projeto político pedagógico, as ferramentas da educação popular, educando sempre para a cidadania, desde cedo elas aprender a trabalhar o senso crítico, ajudando no fortalecimento em suas fases futuras como cidadão na sociedade.”. Percebe-se total sintonia com o que foi discutido sobre educação popular nos capítulos do referencial teórico, o de uma pratica de educação que desperte para a reflexão e o senso crítico do indivíduo. Ele destaca ainda que a oficina se conecta à forma de educação que Paulo Freire descrevia como um ato de amor. A transcrição das entrevistas, está disponível na seção de Apêndices. É possível identificar nas falas dos entrevistados o reconhecimento e o valor da realização deste projeto para as crianças e para comunidade, sendo o ensino da arte uma intervenção educacional necessária, e proposta compatível pretendida por estes moradores. As falas destacadas tanto por participantes jovens quanto pelas pessoas de maior idade revelam esse desejo. Os relatos destacam sobretudo a pertinência da proposição de oficinas e outras atividades artísticas para a juventude, considerando a promoção da cidadania e o desenvolvimento de consciência crítica. Outro elemento nitidamente percebido através das entrevistas foram as falas dos sujeitos, fazendo o diálogo com as reflexões desenvolvidas no referencial teórico deste projeto, em especial à pedagogia freireana a concepção sobre o educador social de maria da gloria gohne a importância do ensino da arte de Ana Mae Barbosa. Esta convergência pode ser explicada pela trajetória acadêmica e profissional dos sujeitos, envolvidos, considerando os fortes laços que tem com a comunidade, reforçando e justificando a adequação deste trabalho a partir de referencial teórico escolhido e abordado nas seções anteriores. 5.5 PROPOSTA DE OFICINA A partir destes relatos, e considerando, sobretudo, as reflexões trazidas nos capítulos de referencial teórico que correspondem à fundamentação para os princípios norteadores desta proposta, segue sua descrição. 5.5.1 Informações gerais Com o tema "Do Barro à cerâmica: manifestações artísticas em espaços não formal de ensino", a oficina tem como o foco os seguintes conteúdos programáticos: o estudo da modelagem com barro; uma breve história sobre as argilas; principais mestres ceramistas da região; visitas ao atelier e oficina de Francisco Brennand, em Recife; experimentações com o desenho como base da criação e a compreensão das dimensões, do bidimensional ao tridimensional; processo de construção das obras, e a modelagem de peças artísticas, utilitárias e decorativas; além da exposição das obras. 5.5.2 Objetivos Considerando os conteúdos a serem trabalhados e a proposta geral da ação interventiva proposta, adotam-se os seguintes objetivos pedagógicos: - Propiciar aos alunos um ensino de arte de qualidade, e o estímulo ao surgimento de novos artistas. - Mostrar a arte da cerâmica como elemento visual e de construção de ideias - Construir uma relação de autoconfiança da criança com sua identidade cultural e pertencimento local. - Despertar sobre a importância da cultura popular, e da criação visual na consolidação da identidade nacional. 5.5.3 Proposta metodológica O grupo participante desta oficina, será de crianças com faixa etária entre 07 a 12 anos de idade. Trabalhando o barro como base para o processo de criação a criança fará descobertas artísticas: através das brincadeiras serão trabalhadas as dinâmicas, rodas de conversas, contações de histórias e um pouco da história da cerâmica, desde os povos primitivos, até a atualidade. Serão conhecidas a matéria prima e seu processo de transformação, da argila à cerâmica, a preparação, misturas, plasticidades, manuseio a modelagem, acabamento, queima secagem, das peças feitas por eles. Este plano didático tem como base de estudo os métodos e fundamentos da educação popular do educador Paulo Freire e as pesquisas sobre o ensino da arte Ana Mae Barbosa com a abordagem triangular, e as pesquisas de Maria da Glória Gohn. 5.5.4 Recursos e materiais didáticos a serem utilizados Através do planejamento geral, o trabalho deverá se utilizar de projetor, 200 quilos de argilas, caixa de som, papel oficio 4- A e lápis 6B, um monitor de vídeo televisão, pincel e tintas à base de água, bases de madeiras e esteios e espaços da queima. 5.5.5 Atividades e procedimentos Como parte desta proposta pedagógica, um conjunto de atividades de aprendizagem é proposto: - Dinâmica de apresentação do grupo, e conversa sobre sua realidade social e cultural, do grupo. O que eles querem fazer? - Exibição de áudio visual com apreciação de obras de artes de artistas consagrados, e análise dos conteúdos e produções apresentadas. - Estudo e manuseio de matérias e a apresentação dos instrumentos e ferramentas de trabalho - Experimentos com desenho a Lápis grafite 6b, papel 4A, argila para modelagem, bases e paletas de madeira, preparos e ponto de modelar da argila, técnicas de expressão facial - Apresentação de obras de arte sua contextualização, histórico social e artístico debates, e discussões - Compreensão dos significados e modalidades das artes visuais da cerâmica articulando os aos modos construtivos e a leituras das imagens - A ideia de uma parceria com grandes artistas consagrados, buscar referências com base no histórico do ensino da arte e da abordagem triangular. - Realização de experimentos e produção das obras 5.5.6 Proposta avaliativa Serão feitas avaliações de acordo com o envolvimento e a participação das crianças, dentro do processo de aprendizagem, priorizando sempre o ato de brincar, explorando a livre expressão como ponto inicial das ações criativas. Outros aspectos importantes da avaliação são as produções e descobertas artísticas das crianças. O processo avaliativo também contempla conversas sobre processos criativos, como aconteceu e a fala dos participantes sobre suas experiências, descobertas. Por fim, engloba ainda um relato do que foi aprendido com as atividades práticas, uma avaliação das obras apresentadas, e exposição das obras produzidas durante a oficina. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este projeto de oficina permitirá às crianças entender de forma diferenciada vários conteúdos referentes ao ensino da arte e a modelagem do barro até sua transformação em cerâmica; mostrará na prática as ações que levarão os alunos a criar produtos e objetos artísticos além de apreciá-los, examiná-los e avaliá-los. Essa prática permitirá ao professor e alunos uma troca de conhecimento e aprendizagem, além de se autovalorizarem como cidadãos compreendendo-se enquanto indivíduos com possibilidades de produção e diálogo com o patrimônio individual e coletivo de sua comunidade. O processo de aprendizagem na oficina envolverá um conjunto de conhecimentos que levam ao estímulo, à criação e significados das coisas exercitando a capacidade e a constante possibilidade de transformação do ser humano, muito comum quando trabalhamos no campo da arte. A experiência com a argila valoriza o meio rural a natureza e o cotidiano simples dessas comunidades Conforme explorado nas seções anteriores, o trabalho com a modelagem do barro beneficia todos os sentidos da criança, estimula a criatividade, e habilidades manuais. O movimento de estiramento do barro provoca sugestões criativas de figuras, formas e volumes descobertas de dimensões e espaços, ampliando a percepção do mundo ao redor. Desta forma, espera-se que este trabalho contribua como incentivo e desenvolvimento da arte da cerâmica, e contribua com surgimento de novos talentos junto à comunidade, melhorando a qualidade de vida das crianças e incentive nossos valores culturais e artísticos. Espera-se que ajude na formação do caráter e da cidadania, ressaltando a importância da produção artística da cerâmica como elemento de educação e transformações sociais no processo de ensino e aprendizagem das crianças e adolescentes em situação vulnerável. REFERÊNCIAS AZEVEDO, Fernando; ARAÚJO, Clarissa Martins de Araújo. Abordagem Triangular: leitura de imagens de diferentes códigos estéticos e culturais. Revista GEARTE, [S. l.], v. 2, n. 3, p. 345-358, set./dez. 2015. Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2023. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1991. D’ANTINO, Cecília. O Barro e a Expressão do Excepcional. In: CAMARGO, Luís (org.). Arte-educação: da pré-escola à universidade. São Paulo: Nobel, 1989. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004. GABBAI, Miriam B. Birmann. Cerâmica Arte da Terra. São Paulo: Callis LTDA, 1987. GOHN, Maria da Gloria. Educação não-formal, educador(a) social e projetos sociais de inclusão social. Meta: Avaliação, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 28-43, jan./abr. 2009. PILEGGI, Aristides. Cerâmica no Brasil e no Mundo. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1958. READ, Herbert. A educação pela arte. São Paulo: Martins Fontes, 2013. (Coleção Mundo da Arte). SALVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política! 32. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1999. (Coleção polêmicas do nosso tempo; v.s.). SEVERINA, Maria Betânia. Tecer o barro: uma construção de percursos e conexões da cerâmica em hipermídia. São Paulo, 2006. VIEIRA, Cleide A. Intersecções Femininas. 2006. 72 f. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em artes visuais) – Centro Universitário Belas Artes, São Paulo, 2006. https://seer.ufrgs.br/index.php/gearte/article/view/53833 APÊNDICE Relatório de Entrevistas e conversas sobre a importância da oficina de cerâmica com as crianças da comunidade de Desterro Entrevista 01: M. C. L – Assistente social, professora, Ativista social, 88 anos Pergunta #1: Qual a sua opinião sobre a realização sobre oficina de Cerâmica com Crianças no CEEP? O CEEP realiza sua tarefa educativa através da ARTE, ouvindo e respeitando os direitos das crianças que escolhem que oficina quer participar. A oficina de cerâmica tem sido uma particularidade em relação as outras oficinas com as crianças, porque Paudalho é um dos maiores produtores de tijolos da região, e daí talvez me perguntem. É que o barro material didático da oficina não é estranho às crianças. Porem tudo que se pode fazer com ele sim, é um limite para elas. Sabem da fabricação de tijolos telhas, caras e até alguns utensílios domésticos, desconhecem em que é ´possível ultrapassar esse limite. Nas oficinas o educador vai progressivamente orientando-os até o momento de entregar-lhe uma porção de barro e deixar que se expresse livremente. No início tímido ingênuo, inseguro, vão vendo os trabalhos dos outros fazem pequenos animais, figuras humanas etc. A medida em que o educador estimula orienta, recomece o esforço e o resultado do trabalho elas e ai começam a adquirir confiança. Aos poucos o educador conversa sobre os trabalhos feitos de barro apresenta fotos e planeja visitas a outros ateliers, o grupo vai aumentando seu interesse, nesses contatos ele vai introduzindo um novo vocabulário ao grupo: ARTE – OBRA DE ARTE – Uma visita a Tracunhaém faz parte dessa programação. E aí as crianças podem ver e aprender algo mais sobre a arte com o barro e os tipos de peças, utilitárias e decorativas. Pergunta #2: Uma oficina de cerâmica é necessária? Atende as necessidades das crianças enquanto seres em desenvolvimento e amplia sua visão sobre a utilidade do barro. Descobrem-se como seres fazedores de cultura ao pegar o barro e transforma-lo em uma obra de arte; uma pinha um santo um vaso, um presépio etc. Amplia seu horizonte intelectual contribuindo para construção de sua humanidade. Eleva sua autoestima e a consciência de que é capaz – um desafio na comunidade. Desperta o sentido de estética e do belo, e levam sua obra para enfeitar suas casas. Despertam para as necessidades intelectuais de estudo e reflexão. Em relação às mulheres quando elas falam em participar das oficinas, sua preocupação é a de fabricação de peças utilitárias com vistas a vendas. Porem no processo educativo com elas são trabalhadas as possibilidades de criações e questões relacionais as suas capacidades criadoras e artísticas. A grande dificuldade é a de poder acompanhar os grupos por mais tempo, pois esse processo exige continuidade. Porém uma educação popular é o caminho para o Brasil na atual conjuntura, considerando que no analfabeto político lhe faltam critérios na escolha do seu representante. Pergunta #3: Qual a necessidade dessa oficina para as crianças e para as pessoas na comunidade? Procurando responder a essa pergunta num curto espaço de tempo que tenho, quero principalmente dizer que essa abordagem exige situarmos de que “necessidade” estamos falando, e sobretudo de sua relação com a educação, e com conceito de educação popular, que o CEEP adota, uma vez que a oficina se realiza num centro de estudos e educação popular. Com esta rápida introdução queremos dizer que não se trata de qualquer necessidade que temos como pessoas humanas, mas de uma que temos exatamente porque somos pessoas humanas. Falo da necessidade que temos de nos construirmos de sonhos e para isso de termos uma educação como diz João Severino de Souza: A educação como uma ação teórica prática, acadêmica política; reflexiva atual que nos ajude na construção de nossa humanidade individual e coletiva. Assim concebida, a educação tem que ser fruto de uma perspectiva cultural, buscando construir uma vida livre, expansiva em harmonização permanente. Paulo Freire sempre Dizia: “Temos que resgatar a humanidade que nos foi roubada ao povo“. Embora muito resumido, creio que é suficiente para entender de que necessidade, tratamos prioritariamente daquela que contribui para que os educandos se descubram como sujeitos de sua história, participantes ativos no seu destino e no destino do país, com a consciência do seu papel no mundo. __________________ Entrevista 02: R. S. E. – 54 anos Pergunta #1: O que faz atualmente? Pode fazer um breve relato? Tenho acompanhado o trabalho do CEEP a muitos anos e sei da sua importância para a comunidade de desterro, o centro oferece uma variedade de oficinas, de arte, mas podemos observar que a de cerâmica tem atraído muito as crianças, pois é uma atividade lúdica, criativa e divertida. Atualmente faço parte da diretoria do CEEP na função de tesoureiro, exerço outras atividades como: motorista, cuidado com os patrimônios e outras atividades conforme as necessidades do centro. Pergunta #2: qual a sua opinião sobre a realização sobre oficina de Cerâmica com Crianças no CEEP? A realização desta oficina de cerâmica, é de suma importância para nossa vila, diante da demando de crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social nesta comunidade, é uma oportunidade de as crianças conhecerem o mundo da brincadeira e da arte, e poder trabalhar em seu desenvolvimento motor. elas conhecerão um pouco da história da arte e de sua cultura além da história da cerâmica, isso pode contribuir para descobertas de habilidades, através da livre expressão da arte, da modelagem, do barro, da pintura, e da poesia, fortalecendo os aspectos cultural, espiritual, social e econômico na comunidade. __________________ Entrevista 03: M. J. B. M. – 63 anos Pergunta #1: O que faz atualmente? Pode fazer um breve relato? Sou costureira, dona de casa, participo dessa ONG. A mais de 30 anos tenho filhos e netos que já passaram por lá, tenho um filho formado em gastronomia e que praticamente foi educado com as atividades do centro, principalmente as aulas de cerâmica. Pergunta #2: Qual a sua opinião sobre a realização sobre oficina de Cerâmica com Crianças no CEEP? A oficina de cerâmica é importante por apresentar um processo de educação através da modelagem, trabalhando com atividades lúdicas, onde o adulto, criança e adolescentes podem aprender , e construir objetos, criando figuras do seu imaginário culturas e afetivo , além de mostrar as etapas do barro para a transformação em cerâmica a mesma proposta de modelagem e esmaltação. Pergunta #3: Qual a necessidade dessa oficina para as crianças e para as pessoas na comunidade? Essa oficina é necessária para atender um grande número de crianças em situação de risco na vila de desterro, permitindo que as crianças tenham o acesso à arte do barro, e trabalhem coordenação motora e desenvolvam a criatividade e a concentração. __________________ Entrevista 04: Y. A. S. – 34 anos Pergunta #1: O que faz atualmente? Pode fazer um breve relato? Sou arte educador e pedagogo, trabalho com produções culturais, além de atuar com teatro experimental, sou ativista social, e tenho trabalhos relacionados com a temática da juventude, com a trajetória passada, entre elas a União dos estudantes secundaristas de Pernambuco e associação dos estudantes secundaristas do carpina, passando pelo Projovem Adolescente, SCFV, casa das juventudes, coordenação de juventude do Carpina. Atualmente supervisiono um programa de primeira Infância no SUAS, Sistema Único de Assistência Social. Pergunta #2: Qual a sua opinião sobre a realização sobre oficina de Cerâmica com Crianças no CEEP? A Oficinas de cerâmica para crianças pode ser uma atividade muito positiva. Ela oferece várias vantagens: Criatividade, Habilidades motoras, Paciência e concentração, e aprendizado histórico cultural. As oficinas são supervisionadas pelo artista experiente Carlinhos Melo, e o manuseio de materiais e equipamentos, e para garantir a segurança das crianças. Além de trabalhar com tudo isso citado em cima, o CEEP tem em seu projeto político pedagógico, as ferramentas da educação popular, educando sempre para a cidadania, desde cedo elas aprender a trabalhar o senso crítico, ajudando no fortalecimento em suas fases futuras como cidadão na sociedade. Pergunta #3: Qual a necessidade dessa oficina para as crianças e para as pessoas na comunidade? Ajuda a sair da estagnação mental e social, são crianças que em muitos dos casos tem carências múltiplas, e são filhos e filhas de mãe solo, e que vivem onde sua principal renda de atividade, são as cerâmicas e usina, além do comércio. Ajuda a desenvolver o processo lúdico, seria uma fuga no contra turno escolar, e oferta um equipamento de oficina, que o poder público se ausenta em torno desta temática. __________________ Entrevista 05: J. E. L. S. – 24 anos Pergunta #1: O que faz atualmente? Pode fazer um breve relato? Sou formado em Teatro pela UFPE. Atualmente trabalho nas áreas de Atuação, Direção, Produção Cultural e Iluminação Cênica. Sou membro do CMPC (Conselho Municipal de Políticas Culturais) do Paudalho e também sou membro da Diretoria do CEEP. Pergunta #2: Qual sua opinião sobre a realização da oficina de cerâmica com crianças no CEEP? Ter participado das oficinas de Cerâmica teve um peso muito grande e significativo para a minha formação e para o meu crescimento pessoal. A partir da manipulação do barro eu buscava manipular também a minha realidade. Enquanto eu moldava o barro, milhares de emoções, nem sempre positivas, iam ganhando forma, mas as formas, diferente das emoções negativas sempre traziam algo positivo. O barro funcionava para mim como uma espécie de filtro que sempre transformava a dureza da minha realidade em esperança num futuro melhor, o resultado em sua maioria era a confecção de corações que para mim era um símbolo de amor e esperança. As Oficinas de Cerâmica eram muito mais do que só conhecimentos técnicos sobre como manipular o barro, mas acima de tudo, eram verdadeiras aulas de como o barro dá possibilidades de construir outros futuros, outros imaginários para quem o molda. Pergunta #3: Qual a necessidade dessa oficina para as crianças e para as pessoas na comunidade? Estamos localizados em uma cidade na qual as Cerâmicas (grandes fabricas produtoras de tijolos), são na maioria das vezes uma das únicas possibilidades que os jovens têm de conseguirem emprego, muitas vezes porque outras oportunidades lhes foram negadas ou até mesmo por falta de outras possibilidades. Com isso, as Oficinas de Cerâmica em muito contribuem para a criação de conhecimento e de outras realidades pensadas e executadas à partir do barro. Umas vezes inseridos nesse contexto de poucas oportunidades e de baixa perspectiva de um futuro melhor, os jovens que têm a oportunidade de participar das Oficinas de Cerâmica terão a possibilidade, por meio de um processo subjetivo, de criarem para si outros futuros através do conhecimento adquirido com o barro. __________________ Entrevista 06: J. E. B. S. – 25 anos Pergunta #1: O que faz atualmente? Pode fazer um breve relato? Atualmente estou trabalhando, estudando e sempre em busca de novos conhecimento e oportunidades. Pergunta #2: Qual sua opinião sobre a realização da oficina de cerâmica com crianças no CEEP? A oficina nos traz algo muito importante através do barro. O ser humano tem a possibilidade de trabalhar com algo da natureza e consequentemente vender, ou doar o objeto que foi feito pela própria pessoa é imensamente importante no sentido de que as coisas simples da vida têm mais valor e por muitas vezes não enxergamos isso através dessa oficina. Foi através dessa oficina que muitas crianças/ inclusive minha pessoa pode sentir de verdade a realidade dos seres humanos que trabalham com artesanato feito a barro. É importante que outras pessoas possam ter essa experiência única. Pergunta #3: Qual a necessidade dessa oficina para as crianças e para as pessoas na comunidade? A importância da oficina em si é de grande valia. O toque com o barro, o senti e o construí algo com o mesmo nos dar o dever de entender que a criança tem seus encantos, imaginação e suas técnicas na construção de alguma peça e ter a noção da realidade de que ela pode ser o que ela quiser. O desejo de conhecer suas habilidades é muito importante. Por isso a oficina de barro é importante para a comunidade no todo por trazer uma experiência única onde o público não tem tanto conhecimento em si de algo tão valioso.